VOZES DA SECA
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@live.com
Luiz Gonzaga, cantando, já fazia seu protesto, infelizmente sem muito resultado até hoje. Ele e Zé Dantas compuseram a canção Vozes da Seca. Zé Dantas praticamente foi o primeiro compositor de protesto, no Brasil. Sob o sugestivo e melancólico nome de Vozes da Seca, em 1953, ia, já então, um duro recado aos políticos que chegaram a criar a figura da indústria da seca, no Nordeste, à cata de votos, do tipo toma lá, dá cá seu voto.
Palavras de quem vive a dura realidade:
“Seu doutô os nordestino têm muita gratidão pelo auxílio dos sulista nessa seca do sertão. Mas doutô uma esmola a um homem qui é são, ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão.”
E justifica o pedido:
“É por isso que pidimo proteção a vosmicê, home pur nóis escuído para as rédias do pudê”.
Em contrapartida, ainda assume o compromisso de cidadania:
“... sem chovê, veja bem, quase a metade do Brasil tá sem cumê. Dê serviço a nosso povo, encha os rio de barrage, dê cumida a preço bom, não esqueça a açudage. Livre assim nóis da ismola, que no fim dessa estiage lhe pagamo inté os juru sem gastar nossa corage. Se o doutô fizer assim salva o povo do sertão. Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação! Nunca mais nóis pensa em seca, vai dá tudo nesse chão. Como vê, nosso distino mercê tem nas vossa mãos”.
Parece que esses versos simples de Vozes da Seca, sem viés ideológico, valem mais do que discursos políticos, sermões ou teses acadêmicas sobre a questão social. Resumem uma situação que poderia ter sido de duração temporária, pois esse tipo de problema era para estar resolvido há muito tempo... O povo sofrido “inté já teria pago os juru”.
Será que muita coisa mudou, nesse aspecto, desde Luiz Gonzaga? E não apenas no Nordeste. Na certa, como sempre, haverá uma leitura otimista; e outra, pessimista. E mais: persiste um ranço coronelístico. Renova-se o discurso, a práxis, não. Aliás, no Sudeste também está faltando água. Rios morrendo de sede...