O CANDIDATO TRAPALHÃO (I)
Depois de muitas idas e vindas, repreensões e ajustes, finalmente, Araújo aprovou o texto elaborado por Osvaldinho, seu fiel escudeiro, principal assessor de campanha, dublê de motorista e marqueteiro. E ordenou à secretária que o material fosse enviado ao maior número possível de pequenos, médios e grandes empresários. Com urgência. Afinal, até ele, candidato de primeira viagem – tolo metido a esperto –, sabe que não se faz campanha sem dinheiro. Sua ordem foi cumprida à risca. Eis o texto aprovado pelo candidato trapalhão:
Nobre empresário:
Venho por meio dessas mal traçadas linhas me colocar, desde já, à sua disposição. Ainda não cheguei lá, mas estou esperançoso, animado mesmo. Mas, para chegar lá, preciso de recursos. Ou seja: de sua ajuda financeira. Não ponho preço, claro. Cada um contribui como pode. Por isso, gostaria de conversar com Vossa Excelência. Vou até sua empresa, se preciso.
Tenha certeza de que Deus lhe dará em dobro – e eu, ao longo do mandato, muitas vezes mais do que o recebido de Vossa Senhoria. A causa me parece justa, até porque, eleito, pretendo transformar meu gabinete e escritório político em usinas de bons negócios para todos os que participarem dessa empreitada, sem descuidar, jamais dos legítimos interesses de nosso povo sofrido, razão primeira e única de minha candidatura.
Certo de seu apoio e grato pela atenção, aguardo ansioso seu retorno.
Receba meu abraço.
Até a vitória!
ARAÚJO PINTO E SILVA
O SEU CANDIDATO