Pelos Caminhos da Vida
 
   O que menos interessa ao outro é a nossa biografia. Ela faz-se em cada termo, palavra afável ou inflexa que desvela o poder de ter sido, o de esculpir  ao longo desta vida, um ápice de nada, num átimo de tempo – insisto: existo. Num paradoxo, quanto menos identificado estou, raiz fincada no chão tiver, menos serei eu mesmo, mais serei o OUTRO. Este, sim, reflexo de mim mesmo, me aufere consciência.
   Eu vejo, sinto, pressinto, respiro o outro no amplexo côncavo do espelho. Quantos eus perfilam no instante desta constatação?  As palavras insinuam-se laureando a infinitude do ser. Nelas mergulhado, ouso enfrentar o silêncio na aventura perspicaz. Você colocaria o seu sonho numa moldura, fosse ela um enfeite submerso em possibilidades de fraturas? Olhar é, em certa medida, transgredir, desnudar-se de tantos "eus" contingentes da existência. Sou a imanência do Inonimado, num tempo e espaço determinados em que o sujeito-objeto se fundem. A vida me é dada sempre no fio da navalha, no entrelaçar de acontecimentos nem sempre duradouro, nem sempre fugazes. Entretanto, resisto. Existo apesar de saber que minha biografia oriunda-se nos protótipos intra-uterinos de infindas gerações.
   Reflito: a sua idade é a idade de seus sofrimentos? Você é um homem, ou você é apenas uma reação impensada num lapso do ETERNO? O homem, é bom lembrá-lo, é capaz de de ler a mensagem do mundo. Decifra-me se sou enigma de tantas imagens. E, o homem jamais é um analfabeto. Ao invés disto, é aquele que reflete ainda para pensar. Onde estamos? Quem somos? Para onde vamos? A sua terra, onde fica ? É uma aldeia? Grande, pequena. A montanha faz sombra, ou o mar, constantemente, vem acariciar seus pés?
   O homem é sempre aquele que, na multiplicidade de linguagens pode ler e interpretar. Viver é ler e interpretar. No efêmero, pode ler o Permanente, no temporal, o Eterno, no mundo, Deus. Você tem uma casa de milhares de tijolos, ou é uma casa de poucos "tijolos cor-de-rosa", gerâneos na janela, pombas no telhado..." A ternura sobrevive escondida sob os ardis de seus pés? Eu possuo as estrelas, pois "ninguém antes de mim teve a ideia de as possuir". E a sua vida gira em torno de quê, das moedas, ou em torno das estrelas? Você teve um cão? Chorou quando ele morreu? "Eu me julgava rico de uma flor sem igual, e é apenas uma rosa comum quer eu possuo".
   Mas a vida é assim mesmo: "Eu caço as galinhas e os homens me caçam. A gente conhece só conhece bem as coisas que cativou. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte mal-entendidos. Mas, a cada dia, te sentarás mais perto... Se tu vens, por exemplo, as quatro da tarde, dese as três começarei a ser feliz"  Deitado na relva,  ou em outro lugar qualquer, você também chora, ou isso é coisa de gente fraca? Ah, ia me esquecendo de dizer que estudei o homem, suas neuroses, psicoses, estudei o homem na Filosofia, Psicologia, eu o estudei na Universidade, mas só o conheci mesmo no dia-a-dia da vida. E, nos livros : Metafísica do Olhar, Histório de Pingo, Contrapasso Poético, LIras ao Vento, Crônicas do Amor, eu falo um pouco dele, o homem, e o ficciono para você.
  Vem comigo pelas veredas insondáveis do pensar e passíveis do imaginar. Vem como a memória o chama: ela precisa de você.
   Tantas perguntas quantas questões.

                              Roberto Gonçalves
                                        Escritor

 
RG
Enviado por RG em 22/09/2014
Reeditado em 09/07/2016
Código do texto: T4971245
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