A volta de Jésus
Depois de ver tanto conterrâneo embarcar e, no trem, pra São Paulo se mandar, Jésus, filho de Aurora, achou que tinha chegado a sua hora.
Mas não foi logo. Hesitou, procrastinou, até que por fim, embarcou. Ia no caminho trilhado por muitos, onde o emprego era seguro. E o trabalho duro.
E foi o que constatou o moço Jésus desde os primeiros dias que na paulicéia desembarcou. O ritmo era frenético, a cidade chegava a dar medo, mas não tinha segredo: era cedo acordar, trabalho buscar, logo encontrar e só à noite, pra casa retornar.
Acostumado a ter a comida no prato, a roupa lavada, os mimos de Dona Aurora, e ter o resto do dia para perambular, bater papo nas esquinas enquanto espiava as meninas, Jésus amaldiçoou sua sina. Não era pra ele aquele batido, aquela correria.
Viaduto do Chá, Sé, Luz, tudo uma folia. Ah, ele não merecia. Com pouco, tinha até emagrecido, andava abatido e mais que isso, aborrecido. Tudo que era amigo de antes tinha sumido, cada um com sua vida "intirtido". Tava mesmo fu...(lminado)o nosso Jésus tão desamparado?
E era o início dos anos 50, a locomotiva do Brasil continuava a demandar braços, mas o bom Jésus já estava aos pedaços. Não, não dava, e frio ele suava. Até que tomou a decisão. Nem bem dois meses de chegado, correu pra estação, queria era o sossego do Brumado. E ei-lo reembarcado.
Mas para não desembarcar embaraçado bolou um plano bem bolado. Vestiu-se bem à paulista e com óculos escuros, cobriu as vistas. Chapéu fino, cachecol, não queria nem dar pistas. Deixara até crescer um bigode para dar ares de quem pode.
E assim que desembarcou, a uma turma de desocupados, folgados se dirigiu e lhes perguntou:
- Boa tarde, cavalheiros, podem por favor me dizer onde mora uma Senhora por nome, Dona Aurora?
Só que não convenceu ao amigo antigo Lizeu: tire essa máscara, Jés. Aqui quanto mais a gente rés, mais sombração aparés...