A crônica mais (des)atinada de todos os tempos
Maria era negra, mulata em cor de púrpura
dessas que de tanta graça, passava sem ter dó
Ana era tão alva que quando as folhas caíam mesclavam com seus olhos de anis
as duas felizes, sob essas sedas doces que escorrem no corpo
só se preocupavam que o tempo não passasse para dar tempo
do tempo de ser bem moça...
Mas, num fatigado dia, Maria conheceu Luiz (o infortúnio)
Luiz prometia um 'amor' que já vinha impresso em códigos de barra
- Maria, você é tão linda! Sua pele é tão macia, mas seria tão mais linda de nariz afiladinho!
Enquanto Ana, do outro lado do pátio, deslizava dedinhos com Eduardo. Eduardo da mesma extirpe masculina de Luiz, presenteava os doces ouvidos de Ana:
- Ana, tu és como porcelana! Teus olhos são Jade, amo você tão milimetricamente que já te digo: use batom para teus lábios parecerem maiores!
Depois dos açoites em lugar de amores (sim, é um trocadilho e muito bem representado na situação), cada qual com um beijo 'apaixonado' voltaram aos seus lares.
Maria com uma lágrima no canto dos olhos e Ana cabisbaixa, de sorriso preso.
- Maria, estás chorando? - Perguntou Ana?
- Não, mas queria tanto! - Respondeu com a vozinha rouca.
- Eu também queria! - Replicou Ana.
Continuaram, Maria já deixando-se levar pelo pranto:
- Se eu tivesse um nariz fininho qual o teu, Luiz me amaria mais...
- E Eduardo seria mais apaixonado se meus lábios fossem mais grossos como os teus!
Deram as mãos e foram embora, cada uma ferida pela estupidez de pessoas que não sabem valorizar o que tem e que de tão preconceituosas e imperfeitas se vem na obrigação de arrancar perfeição dos outros. Uma pseudo-perfeição que só está na cabecinha doentia deles e que crescerão logo mais, transformando-os em monstros. Não há bicho-papão, nem fada-do-dente, haverá nesses sonhos platônicos de amor sempre monstros piores, maiores e mais difíceis de lidar. Eles costumam contaminar suas vítimas com a mesma falta de amor-próprio que lhes perturbam. E reafirmo; cresçam, mocinhas; reajam, mulheres. Porque os irmãos Winchester não existem e nossas heroínas, no fim das contas, somos nós mesmas. E somos maiores e melhores que pensamos, podem ter certeza. Nossa maior arma? Nosso auto 'altíssimo' amor-próprio que nenhum monstro, canalha, vil ou peçonhento ser será capaz de nos tirar. Saibamos usar esse Amor (o maior do mundo) a nosso favor!
E feliz Conto de Fadas, escritos por nós mesmas!