Querem matar a nossa língua portuguesa
                                       
 
                               “Meu pensamento se abre e se expõe em plena luz, e meu verso, mal ou bem, diz sempre alguma coisa”  Nicolas Boileau
                                                                                                                
 
                       A  atriz italiana Sofia Loren, com 80 anos (e ainda bela) disse, certa vez : “devo tudo que sou ao spaghetti”.  Parodiando a atriz, eu diria que devo tudo que sou ao feijão preto, seja lá o que isso signifique.  Na verdade, apesar de minha ascendência italiana, pois sou também Cavalcanti, só consegui comer macarrão misturado ao feijão preto. E só admito o spaghetti(um macarrão mais fininho).  Portanto, o feijão preto tem algo a dizer sobre mim.
                       Mas não estou agora no computador, escrevendo essas linhas, para falar de macarrão, feijão ou da Sofia, quero escrever mesmo é sobre a denúncia da grande escritora Maria Clara Machado. Diz ela que há uma comissão no Senado Federal, levando a sério, uma reforma ortográfica brasileira.  Com o pretexto de inclusão social, querem ensinar o aluno a escrever como ele fala.  E vai o exemplo: “ O omen xora porqe qer caza para abitar” (sic). A escritora chama esse movimento do Senado de “Jabuticaba”, que só existe no Brasil.  Evanildo Bechara, professor de português e acadêmico fala em equívoco, baseado em “amnésia ou ignorância. Como disse a professora Marília Ferreira, presidente da Associação Brasileira de Linguística, citada pela escritora Maria Clara, o que dificulta o processo de alfabetização é a pouca familiaridade e contato com a língua escrita e não a ortografia.
                       Meu Deus,  se não bastasse a presença dos vândalos quebrando tudo nas ruas, agora o próprio Poder Legislativo quer assassinar a língua portuguesa.  Penso que nossos legisladores deveriam ler Shopenhauer, que, dentre outras coisas, no livro “A arte de escrever”, nos ensina:  “ A língua é uma obra de arte e deve ser considerada como tal, portanto objetivamente; assim, tudo o que é expresso nela deve seguir regras e corresponder à sua intenção; em cada frase, é preciso que se comprove o que deve ser dito como algo que objetivamente se encontra ali. Desse modo, não se deve considerar a língua apenas subjetivamente e, assim, expressar-se de modo precário, na esperança de que o outro venha a adivinhar o que se quer dizer...   Que abismo separa os homens que um dia inventaram e distinguiram os tempos e modos verbais e os casos de substantivos e adjetivos daqueles miseráveis que gostariam de jogar tudo isso janela afora...”
                       Sempre me disseram que a história se repete, mas uma repetição com alguma melhora.  E acho até que ela reage. A nossa época, já disse mil vezes, está retrocedendo e não vejo melhora alguma. O avanço tecnológico, em mãos bárbaras, não é acompanhado pela ignorância humana. Vejo a barbárie avançando. Os sinais estão aí. É só abrir os olhos. Uma época de frivolidade irritante e os paquidermes ditando regras. Até parece que queremos voltar ao homem das cavernas que se expressava com interjeições: Ai, ui, hum! E as cabeças pensantes do país, amedrontadas, não se posicionam, com medo da fanfarronice do politicamente correto.  Como poderíamos sentir e entender,  "falando como se escreve", a música de Belchior: “ Não sou feliz, mas não sou mud
o. Hoje eu canto muito mais... "
                             Como poderíamos ter versos lindos e mais elaborados, sem uma gramática, como os versos de Giacomo Leopardi: " Che fai tu, luna, in ciel? Dimmi, che fai?
  silenziosa luna?  Sorgi la sera, e vai,
  contemplando i deserti; indi ti posi"

( Que fazes tu no céu?, dize, que fazes?,
  ó lua silenciosa?
  chegada a noite, vais,
  contemplando os desertos; e te deitas)

 
Gdantas
Enviado por Gdantas em 21/09/2014
Reeditado em 21/09/2014
Código do texto: T4970173
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