O QUE A NATAÇÃO FEZ POR MIM
O QUE A NATAÇÃO FEZ POR MIM
Aprovado no vestibular de engenharia da Universidade Federal do Paraná, comecei o ano de 1968 me apresentando no Diretório Acadêmico para o trote. Quando os veteranos começaram a cortar meu cabelo pedi para tirar a camisa, pois ia viajar para Santos e só estava com aquela muda de roupa. Os veteranos que estavam assistindo ao trote comentaram: “– Ô calouro, você é muito forte! Você pratica esporte? E essa aliança? Você é casado?”. Informei que era nadador e casado. Havia uma regra que os casados não podiam sofrer trote e imediatamente pararam de cortar meu cabelo e me encaminharam para o presidente da Atlética da Engenharia um cara chamado Caleffe (viria no futuro ser presidente da Fundepar, Fundação Educacional do Paraná). Conversamos e, apesar de estar parado há um ano, meus tempos eram todos próximos dos recordes paranaenses. Dali o Caleffe me levou para o Círculo Militar do Paraná, me apresentou ao Eraldo Graeml (que havia sido nadador do Corinthians) e este me levou ao gabinete do Secretário de Esportes. Saí dalí como técnico de natação, auxiliar do Eraldo, com salário mínimo. No início do ano letivo, o Eraldo me apresentou o Omar Karam, que me alugou um apartamento no centro de Curitiba por um valor que eu podia pagar. Bom, já era um começo.
Nos Jogos Abertos do Paraná havia um garoto chamado José Finkel, que nadava para o Centro Israelita do Paraná, cujo presidente era o Berek Krieger. Inventei o trote nos Jogos Abertos e cortei o cabelo do José Finkel, pois era seu primeiro Jogos. Dois anos depois descobriram que ele estava com câncer irreversível e, após sua morte, o Berek criou um Campeonato de Natação denominado Torneio José Finkel, que hoje é, na prática, um Campeonato Brasileiro.
Durante todo o curso de engenharia, o fato de ser nadador me ajudou muito.
Participei dos Jogos Unversitários de 1968 em Salvador. Saímos de Curitiba em três ônibus numa noite de julho com uma temperatura de 5ºC. Chegamos em Salvador, após 50 horas de viagem, e a temperatura era 26ºC. Os baianos de casaco e nós de sunga na praia da Barra. Foi muito engraçado. Nos 200m costas, o Pedro Zitti (campeão sul americano na época), nadava tranquilo em primeiro lugar na baliza 4 (era disparado o favorito da prova). Na virada dos 175m assustou quando viu que tinha um cara na baliza 8 (destinada aos com menos probabilidade de vencer a prova) virando junto com êle. Teve que fazer força para vencer, dando um “sprint” nos últimos 25m. Saiu da piscina meio assustado, olhando para saber quem era aquele cara que ameaçara sua hegemonia. Era eu, que havia chegado em segundo lugar. Dia seguinte, na prova dos 10m costas, me colocaram na baliza 3, ao lado dele. Tirei terceiro. Nosso querido Daltely Guimarães (de saudosa lembrança) era o diretor geral da competição, me convocou para treinar para o Universíade. Mas meu tempo de nadador estava no fim. Era casado e tinha mais é que pensar em sustentar minha família. Todos os anos era convocado para os Jogos Universitários Brasileiros, mas nunca mais fui devido priorizar minha sobrevivência e concluir meu curso.
Paulo Miorim