PASSAGEM DO TEMPO
crônica de valdez juval

Passava da meia noite.
Comecei minha caminhada para casa depois de meu trabalho na locução da Rádio Tabajara.
Estava acostumado com o percurso.
Sozinho, ruas insípidas, pouco iluminadas, esburacadas, com passos lentos, cabeça sempre baixa, cruzava com poucos transeuntes que também estavam preocupados com o seu destino.
Procurava cantarolar para me distrair mas era desentoado e desafinado. Também não sabia assobiar. Seria pior ainda. Às vezes contava os postes ou quantos companheiros da madrugada passariam por mim.
O jeito era dar espaço para fantasias, imaginando qualquer coisa, fazendo o tempo e a distância passarem. Sempre sussurrava as minhas orações da noite, pensando em ao chegar em casa, me jogar na cama.
Ao colocar a chave na porta, a luz da sala acende.
_Ainda acordada, minha mãe!
_Estava sem sono e vi que era hora de você chegar. Aproveitei para amornar o seu leite.
_Toda noite acontece a mesma insônia, não é minha mãe? Um beijo. Sua bênção.
Do quarto, a voz de meu pai: _ Deus lhe proteja, meu filho. Parabéns. Boa noite.
O relógio, na parede, tocava uma badalada. Era um domingo de Janeiro do ano de 1948.
Estava completando 16 anos.


 
valdezjuval
Enviado por valdezjuval em 20/09/2014
Reeditado em 18/12/2019
Código do texto: T4969416
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