Cegueira coletiva
Cegueira coletiva
Do alto dos meus 47 anos pergunto-me o que minha geração fez pelo meu país, depois de uma ditadura que durou dos idos de 67 até os anos 80, nos vimos livres para escolher nossos representantes e mudarmos nossa história.
Vimos com grande satisfação e orgulho a volta dos exilados, homens e mulheres voltando ao seu país e podendo colocar em prática todos os seus ideais de liberdade do qual tanto defenderam, muitos foram torturados, outros mortos nos porões da Ditadura, muitos resistiram a dor, outros poucos sucumbiram, mas mesmo esses merecem nosso respeito, afinal o que sabemos de ser pendurados em um pau-de-arara e levar choques em suas partes íntimas? Nada.
A volta de todos eles nos trouxe esperança, antes tínhamos que ser simpatizantes de um partido ou de outro, ARENA, da situação e dos militares, MDB da oposição sem voz, sucumbida pela força, o mesmo deu origem ao PMDB, o partido que reunia a maioria dos exilados e que em 88 deu origem ao PSDB, com FHC, Serra, Covas. Nasceu também o PT, partido de origem operária que tinha como líder um operário barbudo e barulhento, que revolucionou as relações entre patrões e empregados, liderando greves que pararam o setor produtivo metalúrgico, o PDT de uma historia rica, tinha Brizola, um contestador nato, um político habilidoso. O PDS vinha na contramão com seu candidato milionário, Maluf.
Realmente tínhamos tudo para mudar nossa triste realidade política.
Chegamos a 2014, e o que posso contar para meu filho de 16 anos que vai votar pela primeira vez para presidente?
Conseguimos eleger nosso primeiro presidente não militar em uma eleição indireta, graças ao apelo popular que foi as ruas pedir direta já. As diretas não veio, mas Maluf foi derrotado onde jamais pensara que perderia. A primeira Vitória do povo.
Trancredo Neves era nosso presidente, nossa esperança, como vice levou José Sarney, um mal necessário para conseguir os votos da direita no colégio eleitoral. Tancredo morre antes de tomar posse. Mais um caso que nunca será bem explicado no Brasil, assim como foi com Jango, deposto, assim como foi a morte de JK, assim como tantos que se foram.
Restou-nos Sarney.
Tempos difíceis, inflação alta, desemprego, dívida externa impagável, falta de alimentos, industria quebrada.
Veio outra eleição e um fenômeno criado pelos meios de comunicação passou como um rolo compressor por cima de todos os candidatos, Covas, Ulisses, Brizola, Lula, nascia uma criatura chamada Collor, um homem que auto intitulava-se o novo JK. Roubou a poupança de milhões de brasileiros e sofreu Impeachment.
Ficamos então novamente nas mãos do vice, Itamar, tinha então como ministro da Fazenda FHC, que veio a ser nosso próximo presidente. Enfim estávamos nas mãos de pessoas que lutaram por nosso país e que representavam todos os ideais democráticos que tanto sonhamos. Dois mandatos, escândalos, corrupção, empreguismo, obras que nunca acabaram. Decepção frustração, o poder parecia ter o poder de corromper até os melhores.
Veio Lula, que derrotou Serra e que trazia uma nova esperança ao povo, os intelectuais se corromperam, nos envergonharam, quem sabe um homem do povo não faria pelo povo aquilo que ele precisava.
A economia vinha bem, o operário aos pouco conquistava respeito e dobrava preconceitos, o povo o amava, todo o terror plantado pelos adversários não se concretizaram. A democracia, o direito a propriedade e tudo mais foi respeitado.
Mas no meio desse caminho aconteceu o mesmo, corrupção, empreguismo, e tudo mais. Mesmo assim Lula continuava sendo amado pelo povo e conseguiu eleger Dilma. Bom, agora temos uma presidenta, uma mulher. Novamente damos um passo enorme rumo a quebra de paradigmas e preconceitos, uma mulher forte que impunha medo e respeito a muitos homens.
Aconteceu tudo de novo.
Nesse tempo todo Maluf foi governador do mais importante estado do país por duas vezes, foi deputado, senador, e foi o maior corrupto que o país conheceu, não pode sair do Brasil, pois seria preso pela Interpol, aqui continua impune e elegendo-se por voto direto.
Sarney manda no Maranhão, fez sua filha governadora, o filho deputado, uma família corrupta metida em tantos escândalos que dá um livro, continuam todos sendo eleitos por voto direto.
Arruda seria eleito no primeiro turno em Brasília por voto direto, foi impugnado na lei da ficha suja. Ganharia as eleições.
Geraldo será eleito no primeiro turno em SP, tem a campanha financiada pelas construtoras que fraudaram as obras do metro em milhões de reais, transporte público que deveria fazer a cidade um lugar melhor. Será eleito no primeiro turno.
Garotinho tem grandes chances de ser novamente governador do Rio de Janeiro, acreditem toda a corrupção da qual fez parte e todos os inquéritos na justiça, nada valem para o povo, deve ser o novo governador do Rio.
Enfim, o que digo para meu filho?
Que vivemos uma cegueira coletiva...