Limbo - viciados em celular.
Não raro, eu os vejo andando por aí. A maioria deles eu poderia classificar como parcialmente cegos. Recuperam a visão limitada por alguns segundos, só o tempo de virar em uma curva, desviar de outro cego e, novamente, voltam para sua escuridão. Eles atingiram um nível tão, mas tão elevado, de cegueira, que sequer sentem sua presença.
As vezes, eu paro e os banho com o meu olhar. Tento, ingenuamente, despertá-los. Me frusto. Eles estão cegos. Sinto que não há o que fazer. Já aconteceu de eu estar do lado de dois deles, e mesmo eu os olhando fixadamente e as vezes chegando até a sorrir, eles não me notam.
Alguém muito importante deve morar lá dentro. Quero dizer, eu espero que tenha, de fato, alguém muito importante lá dentro. Caso contrário, a vida deles não seria nem aqui, nem lá. Em lugar algum. Viveriam no limbo.
Caso queira, você também poderá os ver por toda parte. Dependendo do estágio em que se encontre, basta levantar a cabeça (caso consiga) e olhar ao redor. Deixe, você também, por alguns minutos, a luz chamativa da tela do celular.
Como eu disse, espero que a pessoa que esteja ali dentro seja importante, mas, mesmo que seja, também gostaria de ter um pouco da sua atenção. Levante a cabeça. Você não é um mosquito que se atrai por uma luz brilhante. Olhe para mim, olhe para nós que estamos aqui fora. A sua vida também é aqui.