Estórias
                    de assombração





        1. Encontrei na Saraiva um livro que eu procurava, fazia algum tempo: Assombrações do Recife Velho, do mestre Gilberto Freyre.
             Esse livro "surgiu durante a passagem de Gilberto Freyre pelo jornal A Província, estimulado pela notícia de um homem que pedia auxílio para livrar-se de fantasmas numa casa do bairro de São José, no Recife", lembra Newton Moreno, na apresentação da 6a. edição, que tenho agora comigo.
           2. Não faltará quem não queira saber o porquê do meu declarado interesse por esse livro do saudoso Mestre - "divino Mestre" - de Apipucos.
          E antes que me perguntem, respondo que, desde menino, gosto de estórias de assombração e visagens: mentirinhas que adoro escutar, ainda hoje.
           3. No sertão do Ceará, onde nasci e me criei, sempre havia alguém pronto para contar uma estorinha de assombração. 
Ora envolvendo as pobres almas do outro mundo, visagens, ora envolvendo o estranho e temido lobisomem, lendário ser que a mitologia grega criou e que continua alimentado nosso imaginário.
          4. Confesso, que de tanto ouvir falar no tal lobisomem, cheguei a "vê-lo" - podem rir a vontade - em alguns crepúsculos sertanejos, na minha inocente infância.

                Saía pela redondeza contando o que vira, e, creia o leitor, recolhia na fisionomia dos que me ouviam um ar indisfarçável de chacota ou um disfarçado desejo de um encontro com esse famoso e badalado fantasma. 
          5. Tarde dessas, vi na televisão, num programa que não me recordo qual, uma psicóloga, com a veemência de uma catedrática, condenando os pais que contam estórias de assombração aos filhos, ou permitem que eles as ouçam de outras pessoas, inclusive de suas babás.

                Essas estórias, frisou bem a douta mestra, "podem assustar as crianças", podendo, no futuro, comprometer a maneira delas "de encarar o sobrenatural". Mais ou menos isso. 
          6. A ilustre doutora até pode estar com a mais ampla e irrefutável razão.
Mas queria dizer uma coisa: no meu tempo de criança (não existiam os psicólogos), meus pais - minha mãe principalmente - nunca deixaram de me contar impressionantes estórias de assombração.
               Posso garantir, agora, atravessando o crepúsculo de minha vida, que as estórias que ouvi não interferiram direta ou indiretamente na minha maneira de conceber o sobrenatural. 
          7. Mas logo me fiz esta pergunta: será que a garotada de hoje, amante incondicional e irremovível da informática, está interessada em ouvir estórias de assombração? Acredito, meu caro leitor, que não, a julgar pelo que tenho observado, cá do meu canto. 
               Não sabe a meninada o que está perdendo. Deixará de conhecer, por exemplo, estórias maravilhosas - O papa-figo, O Boca-de-ouro, Um lobisomem doutor - contadas, no seu estilo erudito, simples, espontâneo, por Gilberto Freyre, no seu livro Assombrações do Recife Velho.  
          8. Em tempo. Leio, neste momento, no jornal "ATarde" de Salvador, que um fantasma está assustando os moradores da cidade baiana de Riachão do Jacuípe, a 197 km da capital. Detalhes: o fantasma pede carona aos motoristas que trafegam nas rodovias próximas a Riachão. 
               Um pecuarista - diz a folha - tido como um dos homens mais valentes da região, se confessou assustado diante do fantasma. "Minha pressão baixou na hora", teria revelado o cidadão riacho-jacuipense.

                Faço, pra concluir, a seguinte e oportuna a advertência:  Cuidado! não nos esqueçamos de que estamos no auge da campanha eleitoral.  Portanto,tudo pode acontecer, até aparecer fantasmas...  
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 19/09/2014
Reeditado em 17/11/2019
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