DE BLACK-TIE

DE BLACK-TIE

19/09/14

Me lembro de1966, Atlético e Cruzeiro jogam no Mineirão, o juiz era o Juan de La Pasion Artés, salvo erro de grafia, e o pau quebrou dentro de campo. A PM entrou de capacete de aço e o que se via eram capacetes voando pra todo lado. No dia seguinte a briga só era manchete de jornal e uma ou duas semanas depois os times já trocavam jogadores entre si. Assim era no Maracanã, no Pacaembu e em todos os estádios. As brigas se limitavam as 4 linhas. Criaram regras e punições exemplares aos atletas brigões e as brigas saíram de campo e foram para as páginas policiais e obituárias dos jornais.

Todos os estados tinham suas torcidas “bambieizadas” Fluminense, Cruzeiro, São Paulo e outras menos votadas. A torcida do Galo era a “cachorrada” e nem por isso deixávamos de ter irmãos e amigos nestas outras torcidas.

Víamos uma profusão de cartazes anunciando desde picolés e pipocas, aos invariáveis “filma nóis” até que um dia mostraram um com o “cala boca Galvão”. Hoje os vendedores não podem portar nem lista de preço, que dizer de nós pobres pagantes torcedores que temos que calar nossa ira contra este ou aquele jogador ou dirigente e se assim quisermos teremos que virar “Black Blocs.

Os campos de grama esmeralda se tornaram arenas com grama importada que precisam de cuidados e maquiagem como as “teenager”.

Hoje não podemos extravasar nossos sentimentos contra os jogadores adversários ou os menos hábeis de nosso time ou homenagear as genitoras dos árbitros. Não podemos tratar os jogadores como tratamos nossos amigos os chamando de “veadinho” ou de sinônimos de “afrodescendentes” que somos todos nós como “criolo” ou “ negão”.

Hoje sou apalpado por seguranças despreparados que nada seguram ou até seguram. Vivo sob a mira de olhos tecnológicos que não me permitem desvirtuar de uma lei que só é válida nas arenas, pois do lado de fora não existe lei.

É melhor parar, diz o bom senso ou o contra senso, já não sei. É preciso entender que o esporte e principalmente no nosso caso, o futebol, funciona como válvula de pressão, estão entupindo esta válvula, um dia a panela explode.

Meu ponto final está bem próximo do dia em que me obrigarem a usar “black-tie” para ver meu time perder 21 pontos fora de campo.

Geraldo Cerqueira