MEU AVÔ
MEU AVÔ
Meu avô foi o herói da minha infância. Um homem simples, bom, generoso e brincalhão. O texto abaixo foi escrito em 2001, no 28º aniversário de sua ausência.
Na memória, para sempre, o relojoeiro velhinho inclinado sob a luz forte, em sua bancada alta, examinando peças minúsculas com seu monóculo preto que lhe dava um ar fantástico, quase cibernético, de robô.
O “cabelo” tinha que ser colocado com extrema precisão, - explicava -, e eu, pequena, olhava intrigada aquele mecanismo com rodinhas dentadas que passavam umas pelas outras e não via nenhuma possibilidade de se encaixar ali um ... cabelo! Meu avô sorria e voltava a debruçar-se sobre seus relógios.
Mas o que mais me fascinava eram os carrilhões de parede, com seus pêndulos e outros carrilhões menores, que se colocava sobre os móveis. Alguns eram levados para casa, para ele ter certeza de que estavam funcionando bem, antes de entregar aos fregueses.
E de madrugada, a louca sinfonia de carrilhões tocando desencontrados, com diferença de poucos segundos, a cada quarto de hora, para extrema irritação de minha avó e de quase todos os outros da casa. O meu avô sorria e voltava a dormir, encantado com aqueles sons tão conhecidos.
Obs: O "cabelo"era um dos componentes dos relógios da era pré-digital.