BEIÇOLA
Noite gelada. Parou para comprar cigarros na padaria. E ele, como sempre, estava lá, com seu cachorro, companheiro inseparável, de todos os segundos, sentado no degrau do sobrado vizinho – enrolado numa manta tão suja e puída quanto suas roupas. Todos o conheciam, e dele gostavam. Raramente, pedia alguma coisa. Naquela noite, lhe pediu um cigarro.
O homem entrou na padaria, tomou um trago, pediu ao rapaz da chapa que fizesse um bauru caprichado para viagem, comprou cigarros e fósforos. Voltou para o balcão, tomou mais um trago, noite fria demais, de trincar ossos.
-- Comprei um maço de cigarros e fósforos para você. Este lanche também é seu, coma, está quentinho, vai-lhe fazer bem. Você precisa comer, não pode só beber.
Agradecido, enfiou o maço de cigarros e a caixa de fósforos no bolso do casaco. Deu uma mordida no lanche, mastigou, mastigou, engoliu a pulso:
-- Está muito gostoso, mas não consigo comer. Posso dar o restante para o cachorro, o senhor não me leva a mal? Ele tem mais fome que eu. Muito obrigado. Vá com Deus.