A Boina Cor de Rosa

A menininha usava uma boina rosa nos dias de muito frio. Sua mãe sempre lhe dizia que protegia os ouvidos. A boina era linda, com um fiapinho no cocoruto da mesma, mas a menina odiava aquela vestimenta. E de tudo fazia para escapar do tormento que era ter que vestir a cabeça com a indumentária idiota - mas era rosa, a sua cor predileta - E pensava num jeito, num modo de sumir com aquela boina linda e horrorosa.

Nunca adiantou. Mas um dia conseguiu... (?)

Numa tarde de frio congelante em que, naquela época as estações seguiam o seu percurso natural, hoje a natureza tão devastada pelo homem que a pobre já não sabe se deixa vir o frio em pleno verão, ou se deixa a tarde morosa dentro de quaisquer estações, ou se pára num calorão de 100 graus à beira de um invernal, enfim...

Naquele santo dia... a sua mãe inventou um passeio de trem. A menininha odiava trem (tanta coisa para ela amar...) Porque não foram ao jardim zoológico ou ao jardim Botânico, oras? Mas não, era muita contradição e foram parar lá em Paracambi (e o pior, com a boina rosa na cabeça) que nem rima com "estou afim" Pela mãe do guarda!

- Paracambi, não, mãe! Por favor! (e com essa boina rosa...) Porque não visitamos o Zoo ou o Jard...

- Pára já com isso! - retrucava a mamãe nervosa.

- É sempre a mesma coisa. Vamos ao Zoo e você quer adotar cobras e lagartos, quer acariciar todos os peludos, quer dar de comer para todos os bichos, que pular as grades e as jaulas! Se vamos ao Jardim Botânico, quer levar todas as plantas para casa Já não aguento mais com esse seu jeito! Não, é não! Vamos para Paracambi.

- A menina ainda implorou mais um tiquinho, fez dengo, chorou com poucas lágrimas, mas de nada valeu...

- E lá se foram para Paracambi, putz! Paracambi. E logo pensou: - Ahammmmm... se lá tem mato deve ter quatis!

- Mãe, ô maaannhhêêê, será que lá tem quatis?

- Pelo amor de Deus, basta com isso, menina! Acho que você veio da selva, não é possivel isso!

A menina não gostou do lugar, embora com muito verde e com muitos bichinho dentro do mato, conseguiu pegar umas joaninhas lindinhas, uns besouros engraçados e "carudos" pacas. Mas de nada valeu a pena.

Ao fim da tarde, pegaram aquele trem que só gemia nos trilhos e capengava feito uma tartaruga com dor nas juntas. E...? Eureca! A menininha teve a brilhante ideia. O frio era de dar nó nos pelos dos braços e emaranhar os cabelinhos, portanto, o vento corria livre e ligeiro zunindo e gemendo junto com os trilhos do trem.

Colocou a cabecinha para fora da janela e... a boina foi-se para bem longe.... da janela ela ria com o seu feito a perder-se num pontinho rosa e dismilinguido, caído e abandonado. Ela ria poderosa : Hahahahahahaha!

- Ô maaannhêêê! A minha boina caiu da cabeça.

- Ah, filha, não tem problema não. A mamãe como é prevenida, trouxe outra pra você. Essa é vermelhinha, coloque na cabeça para proteger os ouvidos.

Agora... ela só escutava o seu próprio suspiro dismilinguido.

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 18/09/2014
Reeditado em 19/09/2014
Código do texto: T4966526
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