Esconderijo Imperfeito

Que tolos se vangloriam pelos atos que edificam a soberania de um acaso, completando a essência de uma existência, sem um consumo excessivo de consciência, ditando ao mundo a realidade de um improviso que nunca cessa?

Quão grandiosa é a audácia de um fato que permanece inalterado, enquanto a vida se torna a forma ou a medida cabível aos anseios de uma putrefação de idealismos. Quanta realização se entorpece nas vestes de uma mente que se enaltece na tranqüilidade de se tornar estática. O dinamismo já não é mais uma procura, o presente dos deuses é o retorno ao esconderijo embutido em nós mesmos, a tranqüilidade de vivermos num mundo aparte, num universo intransferível, pleno e egoísta quanto à pluralidade, mas essencial para a sociedade de um “fetiche-mor” que aniquila a realidade alcançada.

O que se propõe são as castas de uma percepção que contraria os sentimentos, ora sentidos, ora precavidos de um entendimento mais abrangente, mas na essência de uma mente que se cala, a virtude enobrece o mundo de um plebeu que se torna cativo de entendimento.

Somos a expressão que se volta para poucas histórias, somos a memória que se aloca num espaço vazio chamado saudade, somos o futuro que se “embriona” na relatividade de um contexto casual, singular e imperfeito.

Querer resolver as vertentes de uma indagação quanto ao “sou”, não é tratar o “vou” de uma maneira ostensiva, mas realçar uma mente que necessita de um apoio virtual para se espelhar e do espelho retratar as chagas como as marcas de uma vida vivida, de uma vida criada, de uma vida que ora se ilude, e que às vezes se vangloria por mínimas vitórias.

O que é viver por um dom, por um amor, por algo qualquer quando o que se têm são apenas as promessas de uma adequação social? Quem são os astros de uma batalha se não os generais que a comandam. As condecorações já não servem para nada. Então qual o sentido de uma servidão, de um sorriso que nasce da espontaneidade de uma ilusão, de um adorno caro num rosto sujo e malfeito. Ilusão em ter, em saber, em decidir, em reaver o que foi, o que é, e o que será.

Estamos atados ao corpo edificado pela razão. Estamos presos a celeste criação involuntária de nós mesmos. O que seria o “eu”, o “você”, a sua ou a minha vida, senão a irresponsabilidade de assumirmos um ou outro papel, de se camuflar para “flutuar”, do ter antes do ser, do sacrifício de ser um “sacrilégio ambulante”.

Luz e câmaras realçam as capacidades apenas de nós mesmos, mune nossas mentes da mais completa abundância vital: o que pensamos e o que guardamos para nós de maior estima, a criatividade de podermos nos expressar gradativamente, hoje se sabe um pouco, amanhã nunca se chegará ao “tudo”.

Quer-se ter razão, mas não para um debate criador. Quer-se edificar a arma que nos defende de um envolvimento em qualquer situação, seja ela amorosa, o trabalho que nos prostitui, e os sonhos que conspiram contra boa parte da realidade. Esconder para separar o real do irreal, aparecer para camuflar as intenções reais de uma jornada que propõe uma vida quase conquistada, porém, que se distancia a cada dia, a cada hora, a cada suspiro de revolta ou saudade.

Temos o tudo em nós mesmos, as respostas, as perguntas, a dor e a felicidade. Voltemos então a fantasia que se promove pelas casualidades, pelas formalidades, pelo caminho mais “curto e fácil”. Somos cria de uma especulação que grita, separando os “sãos” dos “doentes”, ou seria o contrário.

O problema é entender quem realmente são os astros de um mundo que é pura ficção. A fantasia que se explicita na vida social, na carismática figura do amor que se transforma em ódio num estalar de dedos, na vitória que numa batalha com a derrota se julga a grande perdedora da história. Quem somos? Quem são? Quem já foi algo que nunca se sucumbiu por uma espontaneidade ridícula quanto aos princípios primordiais de uma virtude? A feminista é machista, o viril é preliminar, os loucos já se curaram na batalha de todas as vidas.

Que a camuflagem seja a razão, sem orifícios, sem compromissos, pois esta é a “real” vida proposta pelo que chamamos de “social”, luta que nunca se basta, luta que diferencia estes daqueles, luta que nunca batalhou para se ingressar na guerra ilusória de nossas vidas, pois esta, “o grande final”, depende de um ou outro dar o braço a torcer e ignora-la, pois os caminhos dependem de um retorno ao “baú das oportunidades”, para abri-lo com a finalidade de que todos vejam o seu conteúdo, o que realmente é fatal: nós por todos.

Flyinghard
Enviado por Flyinghard em 18/09/2014
Código do texto: T4966357
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