¬¬ Ode[ao] Samba ¬¬
Onde os poetas se esconderam?
Em que taberna embriagaram-se de vergonha?
Que caverna enterraram de vez sua astuta criatividade?
Ouçam o toque dos tamborins, agogôs e repeniques
O lelê O lalá... Lá vem ele! O samba...
Pretencioso e marcado
Decidido e vencido
Vem... nem sempre bem dito, bem quisto... bem.
Acordem poetas... nem só de poesia vive o samba
Seus ziriguiduns e telecotecos não são suficientes
Há de se ter “balangadães”, há de se ter “QI”
Há de se saber a quem ir e vender-se a seus afagos
Render-se a suas propostas...
Reciprocidade é a alma do negócio.
Viva a política da boa e rentosa vizinhança.
Ei! Senhor samba... Porque perdestes a tua essência?
O que fizeram com você? O que farão por você?
Tal qual escravo da senzala... venderam-te!
Tal qual meretriz despudorada... vendeu-se!
Tal qual criança abandonada... perdeu-se!
E talvez por isso os poetas tenham se escondido...
Não querem ir na leva... seguir a correnteza
Pois contra ela não se rema.
Teus aplausos não são mais sinceros... entristeço-me por isso!
Não ficas mais na memória, não faz pulsar forte o coração
E a protuberância dos pelos coube apenas ao frio.
Avante poetas... não esmoreçam
Não deixais que a tua nobre essência se contamine
Pois não há nada tão encantador e corruptível quanto a natureza humana
Compor tornou-se um vício pernicioso, maléfico
Pois seus desfechos martirizam, vampirizam, e plantam a semente da dúvida.
Um vício...
O samba não deveria possuir o benefício da dúvida...
Samba é arte, é poesia, é criatividade, é sensorial...
Cala-te poeta!
Sambe conforme a música ou esconda-se de uma vez por todas!