Minha primeira becicleta

Foi assim que grafei a palavra no meu exame de admissão ao ginásio. Acho que nunca a houvera escrito antes, embora andasse em minha boca e na de tantos garotos, loucos por uma Monark ou uma Calói.

Havia também aquelas estrangeiras, importadas cujas marcas não se pronunciava e muito menos se escrevia, mas babar à meninada fazia. Raleigh, Gulliver...

Mas a minha becicleta por pouco me deixa fora da reta, pois a prova de português, a língua pátria do primário, era eliminatória e naquele embate poderia significar o fim da história, ou pelo menos confiná-la a

uma segunda edição, uma terceira, e não sei mais não.

E o pior é que não foi uma única vez que incidi no erro: pois a prova, além de constar de várias perguntas, tinha também a composição, que

por sua vez consistia na descrição de uma gravura. E justamente ali, um menino com sua becicleta, e um ramalhete de flores. Sabia como começar, pois algum mestre ou mestra já nos teria soprado: descrição

começa-se por dizer, vejo nesta gravura... e o resto é literatura.

Chegando em casa, ainda arfante daquela experiência ciclística perguntei ao meu pai pela grafia em dúvida. Bê, i, foi dizendo ele... Pronto, tou perdido, disse comigo mesmo, engolindo aquele amargo entrave, quatro ou cinco vezes repetido, no papel.

Mudei de dúvida: qual o plural de qualquer?Quaisquer, ora. Nossinhora, tava eu mesmo por fora. E agora?

Quando anunciaram os resultados consegui um 5,8. A iminente tragédia havia virado com média. Uau, deu pedal de repente, sem ter rompido a corrente…

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 17/09/2014
Reeditado em 24/08/2023
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