Cenas inesquecíveis - Parte I

Todos nós guardamos cenas que consideramos inesquecíveis. Elas podem fazer parte de um tempo perdido, mas se torna presente de uma forma vívida em determinados momentos da vida. Elas podem ser de nossa própria vida, de um filme, de um livro... É interessante falarmos que podem ser de um livro. Mas a nossa imaginação é tão fantástica, que enquanto lemos, as imagens vão criando formas e vida.

Vi o filme “Heróis” que se inspira em uma história real de três pracinhas mineiros, durante a Segunda Guerra Mundial na batalha de Montese, que foi a mais sangrenta. A produção desse filme é totalmente mineira e conta com a atuação de José Roberto Pereira, meu colega da Academia de Letras de Pará de Minas. Além desse ator, que é dotado de grande talento, faz parte do elenco Adriano Gilberti e Leonardo Fernandes, que foi eleito melhor ator de Minas pelo Prêmio Simparc 2011. A direção é do jovem Guto Aeraphe, apontado por alguns jornalistas como revelação do novo cinema independente brasileiro.

A cena da guerra, feita com realismo forte e dramático, leva os expectadores a se envolverem bastante nos momentos de suspense. Isso me fez recordar das mesmas sensações que havia sentido no tempo de minha infância, vendo um seriado na TV chamado “Combate”. Eu ficava imóvel na cadeira sem conseguir respirar de tanto sobressalto. Qualquer barulhinho perto de nós, dávamos um pulo de susto. Os meninos gostavam mais desse tipo de filme, mas eu e minha prima também ficávamos envolvidas com os episódios. Um deles ficou gravado em minha memória de uma maneira indelével.

Foi quando os combatentes começaram a suspeitar de que o padre, que atendia em uma cidade devastada pela guerra, era um espião. Passaram a observá-lo e não conseguiam flagrá-lo em nenhuma atitude que confirmasse as suas desconfianças. Por mais que o investigassem, ele não deixava escapar nenhuma prova, nenhum gesto, absolutamente nada. Parecia de fato um devotado pastor, cuidando das suas ovelhas com toda a dedicação. Eis que um dia o padre, vestido com uma batina preta, passou diante do sacrário e não fez a genuflexão. Foi imediatamente preso, pois acabara de fornecer a prova inquestionável de que não era a pessoa por quem se passava. Um padre jamais cometeria um descuido desses... Essa cena marcou a minha vida. Todas as vezes que estou na igreja e vejo uma pessoa passar diante do sacrário e não se curvar, penso: “Esta pessoa não conhece verdadeiramente o que está oculto ali”. Essa cena despertou em mim a consciência da gravidade que é o não reconhecimento da presença de Jesus no sacrário.

Déa Miranda
Enviado por Déa Miranda em 16/09/2014
Código do texto: T4964150
Classificação de conteúdo: seguro