O Curandeiro Divino


[Jesus] Agiria como médium nas curas que operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso médium curador? Não, porquanto o médium é um intermediário,  um instrumento de que se servem os Espíritos desencarnados e o Cristo não precisava de assistência, pois que era ele quem assistia os outros.  Agia por si mesmo, em virtude do seu poder pessoal, como o  podem fazer, em certos casos, os encarnados, na medida  de suas forças. Que Espírito, ao demais, ousaria insuflar-lhe  seus próprios pensamentos e encarregá-lo de os transmitir? Se algum influxo estranho recebia, esse só de Deus lhe poderia vir.  Segundo definição dada por um Espírito, ele era médium de Deus.   

(A GÊNESE.Allan Kardec. Cap. XV Superioridade da natureza de Jesus)


Do livro Os Curadores do Senhor, lançado neste mês de julho, (aqui), já transcrevemos aqui neste espaço virtual alguns trechos. [aqui e aqui]

Vejamos agora outra cena, aquela em que o personagem Cezarino/Adelfo**, que representa o pesquisador de fenômenos psíquicos, conversa com Padre Benedito, o guia espiritual que assiste os trabalhos de cura. Nessa passagem Padre Benedito diz ao médico pesquisador que, no desenvolvimento de seus trabalhos, "não olvidasse nunca a Face do Cristo."

Vamos ao trecho, que no livro é narrado com base numa "memória escrita por Odamil Cezarino, em São Paulo, 1963".

Antônio Carlos Guimarães - Guima


QUANDO TIVE NOVAMENTE oportunidade de palestrar com Padre Benedito, perguntei-lhe sobre as reencarnações a que Abengoza se referira, em que eu, Afonsina e ele – Abengoza − havíamos reencarnados juntos. O bom padre me disse que as revelações do passado que interessavam já haviam sido feitas e que me concentrasse nas informações de que tinha conhecimento e nas inspirações e intuições que naturalmente aflorariam em minha consciência. O que de fato importava naquele passo de minha vida era que, nas tarefas que assumira no IDMK, à vista das pesquisas do paranormal, explorasse com competência as facetas da Academia e da Ciência, para as quais eu me encontrava preparado, mas que não olvidasse nunca a Face do Cristo, em razão de que o Divino Curandeiro se constitui em esteio de nossos esforços em prol do Bem.   

Divino Curandeiro? – estranhei a expressão – e Padre Benedito me disse: 

− Sim, Cezarino, ele não foi o primeiro nem o último dos curandeiros, mas sem dúvida é o Curandeiro Inigualável.1 E se nos convoca a que realizemos as curas, como está em tantas passagens do Evangelho 2, é porque nós podemos fazê-lo. Lembre- se da lição da fé e o grão de mostarda.3

Na verdade, os prodígios que Ele realizou, seus discípulos também os produziram, e bem assim os antepassados dEle – os profetas de Israel – tantas vezes também. O que digo? Não somente no seio do Povo Eleito, mas em todos os quadrantes da Terra, pois a Providência Divina − assim como faz o Pai Celeste com o sol e a chuva da passagem evangélica 4 − derramou seus dons por toda a humanidade. Por isso, há narrações de curas e de milagres nas histórias e culturas de todos os povos.   

Fenômenos paranormais em meio aos povos primitivos – entre eles a existência de feiticeiros-médicos e seus sistemas de curas – são tema de interessante livro de Ernesto Bozzano, autor metapsiquista que se tornou espírita.  5 

No Oriente, a cultura espiritualista da Índia há milênios sorveu dos Vedas – ditados por sábios ditos “videntes” – a revelação do mundo espiritual, da reencarnação, do carma e da consequente medicina ayurvédica. E na China, há registros, de 4.000 anos atrás, da prática do culto dos ancestrais, sendo lá ainda o berço dos inspirados conhecimentos do Tao, que já embebera o Huangdi Neijing, o tratado de medicina mais remoto que se conhece.  

Assim também há notáveis referências a fenômenos paranormais e de taumaturgia na cultura clássica Greco-romana. Recordemos os hinos de Homero 6, as ocorrências narradas por Heródoto ou Plutarco 7, as curas operadas pelo deus Asclépio 8, no âmbito do templo de Epidauro, as maravilhas atribuídas a Apolônio de Tiana, por Filóstrato. 9

Antes de Jesus, entre os profetas hebreus, há registros de inúmeras ações taumatúrgicas. 10 E igualmente nos Evangelhos e nos livros de Atos vamos encontrar os discípulos do Cristo curando pessoas e libertando obsidiados. 11  

Qualquer um que se lance um pouco sobre os textos bíblicos pode constatar isso por si mesmo. Basta ter ouvido de ouvir e olho de ver. 12 E recorde-se que sobre esse ponto Allan Kardec fez valioso resumo, sob a ótica espírita, mostrando que não há milagres – no sentido sobrenatural do termo – e que todos os fenômenos miraculosos se processam dentro das Leis da Natureza. Trata-se de texto fundamental do Espiritismo, teoria basilar de cunho científico e espiritual sobre a questão dos milagres, primorosa lição do Codificador, a quem coube, pela primeira vez na história da Humanidade, interpretar corretamente os “milagres”, revelando os aspectos materiais e espirituais dos fenômenos. 13   

Veja que no início do ministério de Jesus, estando João Batista no cárcere, e tendo ouvido falar das obras de Jesus, enviou discípulos para perguntarem se Ele era o que estava para vir. E o que fez o Mestre antes de confirmar a João que era de fato o Enviado Sublime? Realizou diversas curas! 14 

E, anteriormente a esse episódio, Jesus já não dera a seus apóstolos autoridade sobre espíritos imundos para os expelir, e para curar toda a sorte de doenças e enfermidades? 15

E qual foi sua última promessa, antes da Ascensão, ao se despedir de seus apóstolos? Ele afirmou que esses sinais acompanhariam os que creem em todos os tempos, que estaria com eles até a consumação dos séculos, e que esses novos discípulos, então, em seu Nome, expeliriam demônios, falariam novas línguas, curariam enfermos pela imposição das mãos! 16  

E por que você acha que os “milagres, prodígios e sinais” 17 produzidos pelo Curandeiro Divino são as mais bem documentadas ações dos Evangelhos? Por que são as mais ricas e variadas, possuem tantas testemunhas e foram narradas com imensa riqueza de detalhes? Foi um acaso? Não. Isso se deu porque esses fatos deviam passar aos homens como irrecusáveis, naturais, passíveis de serem efetuados pelos seus seguidores.  

Que haja grande estranhamento dos homens de ciência quanto a esses pontos é de se entender, mas constatar isso tantas vezes entre os que se dizem seguidores do Cristo é incompreensível – pois há entre esses últimos muitos que – na defesa fanática de dogmas envelhecidos – se arremetem enfurecidos sobre os veros fenômenos de cura, com acusações de fraudes, de mistificações, de ações diabólicas.   

E recorde-se que Jesus ensinou textualmente a tolerância e o respeito para com o ministério dos que não pensam ou agem como nós, dizendo aos apóstolos que censuravam um homem que expelia demônios em nome do Cristo: – Quem não é contra nós, é por nós. 18

Mas haverá um dia – muito em breve, creia-me! – em que médicos e cientistas da Terra trabalharão em harmonia e em concurso com os do Plano Espiritual – pois que se trata de uma e da mesma humanidade – na pesquisa das causas e das curas dos males físicos e espirituais do homem, visto que não se pode curar o corpo sem cuidar do Espírito.  

É da Lei que homens da ciência e homens da fé se associem, para que juntos Fé e Ciência possam minorar o sofrimento humano – este que será tanto maior quanto os homens insistirem em olvidar os milenares convites amorosos do Cristo. 19


1 Nota do Editor: Para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías: Ele tomou sobre si nossas enfermidades e levou as nossas doenças. Mateus 8,17.
2  Mateus 10,1.8 – Lucas 10,9 - João 14,12
3  Mateus 17,20
4 Mateus 5,45
5 Nota do Editor:  Popoli primitivi e manifestazioni supernormali. Edizioni l'Albero, 1941. 
6 Nota do Editor: Ilíada XXIII (A “sombra” de Pátrocolo aparece a Aquiles) – Ilíada XXXIII (Ação apaziguadora de tempestade).
7 Nota do Editor: Narra episódio em que Eliseu de Terina vai a um Templo em que se evocavam os mortos e vê e conversa com a “sombra” do filho Entíneo, morto por envenamento.  
8 Nota do Editor: Veja-se que o deus grego Asclépio foi absorvido pelos latinos com o nome de Esculápio, o deus da medicina na mitologia romana.
9 Nota do Editor: Filóstrato, no Século III, escreveu sua biografia: Vida de Apolônio de Tiana.
10 Vide: I Reis 17,7-16 – 2 Reis 4,1-7; 4,42-44 – I Reis 17,17-24 – II Reis 4,18-37; 20,1-11;  Números 21,6-9
11 Vide:  Mateus 10,8 - Lucas, 9,2;10,9 – Atos 5,12; 8,6-7; 19, 8-16
12  Marcos 8,18; Lucas 8,8
13 Nota do Editor: A Gênese – Parte 2 – Os milagres segundo o Espiritismo.    
14 Nota do Editor: “Naquela mesma hora curou Jesus a muitos de moléstias e flagelos e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos.”/ “Então Jesus lhes respondeu: Ide, e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados...” - Mateus 11,2-6; Lucas 7,18-23 
15 Mateus 10,1 58
16 Marcos 16,15-18; Mateus 28,20 
17 Atos 2,22      
18 Marcos 9,38-39; Lucas 9,49-50
19 Nota do Editor: O Espiritismo e a Ciência se completam mutuamente: a Ciência, sem o Espiritismo, fica impossibilitada de explicar certos fenômenos somente pelas leis da matéria; o Espiritismo, sem a Ciência, careceria de apoio e de controle. (A. KARDEC, A Gênese, Cap. I, n° 16.)


(*) Nessa passagem, o vocábulo curandeiro tem o seguinte significado: Pessoa que se dedica a curar sem ser médico. O que cura sem título nem conhecimentos médicos.  Mas para  os que somos cristãos é certo que Jesus é o Médico dos Médicos.


Referências 

- A gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Allan Kardec. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro : FEB, 2009.
- O Livro dos Médiuns. Allan Kardec. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro : FEB, 2011.
- Povos primitivos e manifestações supranormais. Ernesto Bozzano. São Paulo : Editora Fé, 1997.
- Médiuns e magos entre os selvagens, os rústicos e os povos antigos. In César Lombroso. Hipnotismo e Espiritismo. São Paulo : Lake, 1976.
- Os profetas. João de Jesus Moutinho. Brasília, DF : Gráfika, 2008.
- Jesus: um curandeiro em um mundo de curandeiros – Parte 1. Giuseppe Barbaglio. In Ciberteologia – Revista de Teologia & Cultura, Ano II, n. 10.
- A mediunidade na Bíblia. Henrique N. Gimênez. São Paulo : FEESP, 1996.
- O Evangelho da Mediunidade. Eliseu Rigonatti. São Paulo : Lake, 1975.
- Bíblia de Referência Thompson. Editora Vida, 1995.
- A transcomunicação através dos tempos. Hernani Guimarães Andrade, São Paulo : FE, 1997
- Saúde e Espiritualidade. Uma nova visão da Medicina. Mauro Ivan Salgado; Gílson Freire [Org.]. Belo Horizonte : INEDE, 2008. 


(*) No romance OS CURADORES DO SENHOR, o espírito Adelfo, que fora médico na Roma Antiga, vem a ser, em futura reencarnação, o médico e pesquisador Odamil Cezarino. Daí: Cezarino/Adelfo.