REPENTINO PAVOR
Vivemos no caos do medo esses últimos tempos, o homem realmente tornou-se a fera do homem, tememos muitas vezes nossas próprias sombras pensando tratar-se de algum perverso assaltante que mata friamente. numa manhã dessas estacionei o carro e saí para resolver a vida. Ao voltar, quando entrei no carro, subitamente um homem alto e forte, carrancudo e mal encarado, imediatamente entrou e, sem olhar para mim, sentou ao meu lado. No momento em que ele abriu a porta do carro e começou a entrar, tremi por dentro e pensei: vou ser assaltado, o sujeito já está entrando no meu carro em silêncio mas com determinação. O que faço, o que digo, o que penso? Fiquei completamente paralisado, desprovido de ação, procurando uma saída para aquele instante inesperado e perigoso. Contudo, não havia o que fazer nem dizer, o indivíduo simplesmente acomodou-se no banco ao meu lado com a maior tranquilidade, calma, silêncio, como se fosse o dono, na certeza de que estava tudo dominado. Estranho como tanta coisa passou-me pela mente, um verdadeiro turbilhão de controvertidos pensamentos, principalmente porque aquele repentino acontecimento era algo novo em minha vida, fato pelo qual jamais imaginei passar. Enquanto ele abria a porta do carro e entrava, eu, sem qualquer ação ou reação, tão-somente esperei calado, sem mexer um músculo, tenso, vazio de mim mesmo. Porém, por dentro eu fervia de um pavor sereno e todo o meu ser repetia, estremecendo minhas entranhas: estou sendo assaltado. Não havia o que fazer nem o que falar, nesses instantes abruptos permanecemos inertes, sem acreditar, atônitos e conformados. E aguardei, absolutamente paralisado pela surpresa, que ele dissesse logo a que vinha para eu sair da malfadada cena e despertar depressa do pesadelo em plena manhã. O cara de aspecto mórbido sentou no banco, fechou a porta e olhou-me. A inusitada expressão que me dirigiu desnorteou-me, não foi nada condizente com a realidade refletida em meu coração disparado. Vi, em seu olhar, espanto. Então ele disse, de uma forma que me pareceu de susto e perplexidade: "desculpe, entrei no carro errado!" Abriu a porta e saiu, fechando-a em seguida. Nessa hora todo peso do mundo antes sobre meus ombros se foi, substituída por maravilhosa onda de alívio e agradecimento. Não era um assalto, graças a Deus!