Reencontro com a (ins)piração

Precisei ir ao centro da cidade.

Fazia um bom tempo que não ia até lá. Tomei um ônibus, me sentei à janela, distraidamente a apreciar a paisagem. Me lembrei de uma grande amiga do Rio de Janeiro, e então saquei do meu celular e mandei uma mensagem para ela: "SP amanhece com solzinho gostoso, nem frio, nem calor - Mando p/ você!", e sorri.

Continuo a apreciar a paisagem, vejo as pessoas se locomovendo pelas ruas e alamedas da cidade, porém curiosamente não as vejo com aquela pressa típica dos paulistanos; desta vez é um caminhar mais compassado, quase que combinado entre tantos transeuntes, numa valsa improvisada e executada com perfeição. E pasmem ! -vi a cidade mais limpa até, com trânsito tranqüilo! "Não é possível que só eu esteja enxergando tudo isso!" pensei.

Caminho a admirar a paisagem urbana, ganho a Rua Líbero Badaró em direção ao Mosteiro de São Bento. Me lembro da visita recente do Papa Bento XVI, e entro na igreja. Para minha surpresa, me deparo com a apresentação de uma orquestra, bem ali, no final da nave, a brindar os presentes com Bach, Villa-Lobos e Mozart- com direito à participação de uma cantora lírica. Fico hipnotizado com a grandiosidade e a suavidade da música, enquanto uma variedade de sensações me invadem os poros e me enchem os olhos e os ouvidos! E enquanto os instrumentos de corda como o violoncelo, violinos juntamente com o piano pulverizam o ar daquele ambiente, me ponho a observar a arquitetura secular daquele local. A impressão que tenho é a de que até as imagens estão com os rostos voltados para a origem daquelas melodias tão envolventes, a apreciar tudo aquilo! Me pego a pensar que caras como Bach, Mozart, Beethoven e Villa-Lobos devem ter expiado seus pecados ainda em vida, indo para o céu direto, sem escalas, tamanha a beleza de suas obras ! Baixo a cabeça e sorrio...Deixo minha mente fluir nas notas musicais, sinto a música com o espírito desarmado, viajo para longe sem sair dali - as paredes já não são um limite para mim -, com um leve sorriso no rosto observo a coordenação precisa do maestro a reger com elegância austera a orquestra de jovens e talentosos músicos. Só consigo menear a cabeça, e enquanto aplaudia, dizia "belíssimo! Simplesmente belíssimo!!". Olho para o relógio. Meio-dia e meia. Não sinto fome, não sinto fadiga, não sinto apatia, nada disso...Sinto uma força interior que estava adormecida há dias a ressurgir com vigor, sinto vontade de escrever tudo isso, de dividir com meus amigos poetas de norte a sul do Brasil, sinto o sorriso minando por entre meus lábios, o brilho em meus olhos a iluminar meu caminho com mais força, uma sensação maravilhosa de que saí da rotina e que este dia verdadeiramente me acrescentou algo, me devolveu (ou melhor, reacendeu) a alegria de viver! E de escrever !!!

Não há lugar certo e nem hora marcada para isso acontecer!! Pode ser agora - e por que não ?

Para mim foi hoje, 21/05/07, plena segunda-feira, no Centro de São Paulo...

Marcio Roque
Enviado por Marcio Roque em 22/05/2007
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