O BURACO
Procura o remédio; um dia inteiro , a cabeça doendo e onde está o bendito?Prometeu que ia dormir mais cedo, mas já são onze horas e nem sinal da cartela verde que deixou em cima do criado-mudo.
- Ai que dor, ai que droga!
Bem que a faxineira poderia ter aparecido essa semana, pois só ela consegue se entender com o buraco que parece engolir tudo o que guarda em seu quarto.
Sente-se em um eterno esconde-esconde. Cartões de banco,livros,documentos que somem, se desfazem. Se pudesse talvez debochassem da sua famosa incapacidade de organização.
- Ah, que se dane, vou dormir!
Pelo menos a cama continua no mesmo lugar. Ainda há tempo para um sono de mais de oito horas, deixa a dor de cabeça pra lá.Opa, o que é essa sensação de queda? E esse vento?
Ai, onde foi que a cama bateu? Tateia e sente: Não reconhece aquele chão gelado. Uma luz fraca ilumina a escuridão e vê os anéis dos quais não se lembrava mais,a escova de cabelo, a pasta cheia de papéis da época da faculdade e as aspirinas. aquelas filhas da mãe. Bem agora que não precisa mais delas?
Ela e sua cama : o buraco dessa vez implacável também as engoliu. Olha para as coisas que tanto procurou e ri, o que mais pode fazer?
-E ainda dizem que nem em sonhos eu consigo me organizar
D.SConsiglio