Perdas
"Pior que o amor perdido é o amor que não foi dado
e tudo o que não foi gasto no tempo que era devido."
Valter da Rosa Borges
e tudo o que não foi gasto no tempo que era devido."
Valter da Rosa Borges
Esta semana, perdi meu irmão mais velho. Um grande cara em sua pouca altura, um doce de pessoa disfarçado em broncos modos, um coração do tamanho da torcida do Flamengo, time que ele amava de todo coração. Foi quem me ensinou a dirigir, a pescar, a acampar e a comer bolacha Mabel mergulhada no leite.
Morreu subitamente, quando chegava para trabalhar na manhã desta segunda-feira, o que me leva a confirmar minha teoria: o trabalho é castigo e faz mal à saúde.
Esta semana perdi meu mano velho e está doendo pra caramba. Não devia ser assim. Devíamos estar acostumados a perder. Perdemos coisas o tempo inteiro: chaves, óculos, celulares, livros… Guarda-chuvas? Vários! Dinheiro, brincos, anéis, coragem, juízo e vergonha. Fácil assim, a gente só não perde peso.
Já perdi o carro no estacionamento do Park Shopping. Achei depois, mas a sensação foi terrível e não serviu nem de vacina? Quando solteira, uma amiga me roubou o namorado. Numa tacada só, perdi os dois e nem calejada fiquei. Bichos de estimação foram vários. Desde que me tornei guardiã de cães - alguns resgatados das ruas, doentes ou muito idosos -, todo ano um ou outro nos deixa rumo aos portões de São Francisco.
Dói, claro! Se você não é uma samambaia, conviver com um cachorro é sempre apaixonante. E, quando partem, também nos deixam partidos.
Porém, nada se compara à dor de perder um irmão. Ou um filho, como deve estar doendo em nossa mãezinha, um esposo, um pai, um tio, um amigo… Um grande cara, atarracado, gentil e meio bronco, de rubro-negro coração gigante.
Na verdade, só há uma coisa pior do que perder alguém como o meu irmão. É perder tempo com bobagens quando temos tão pouco tempo para sermos felizes por aqui.
É perder a oportunidade de estar juntos daqueles que amamos e que nos amam também, de falar desses sentimentos, de viver esses sentimentos.
Depois que o corpo esfria ali, cercado de flores igualmente mortas, só nos restarão lembranças. Que elas sejam muitas, de bons momentos ou de situações difíceis enfrentadas juntos, mas que sejam sempre sintoma de uma relação onde o amor tenha a força de lapidar arestas.
Na foto, eu, meus irmãos (faltou um) e minha mãe.
Mano velho, João Luís, é o que está logo atrás de mim.
Texto publicado em minha coluna semanal do jornal Alô Brasília.