ASSIM ERA UMA GRANDE FAMÍLIA
Podalírio e Dona Everina de origem italiana tiveram três filhos todos negros, todos adotados, o mais velho tornou-se policial, o mais moço pedreiro e o Odone, que era o do meio depois da morte dos pais vagou pelas ruas tornando-se um andarilho sem paradeiro. Um dia Dona Everina confidenciou-nos que sabia que Odone sofreria o dia que eles partissem, sabiam desde o dia que foi adotado.
Segundo Everina o principal critério para adoção era pelos que estivessem a mais tempo aguardando uma família e tivessem mais de dez anos de idade, mas a adoção de Odone teve um ingrediente a mais, segundo ela, ele era o mais feio e atrasado escolarmente.
Um dia comprei a bicicleta de Odone de terceira mão, pois era a condição vendê-la pra ganhar uma nova no natal de 1970, transação supervisionada pelo papai e pelo Podalírio.
Um após o outro os três partiram.
Podalírio e Everina não ficaram sós, aliás nunca estiveram, viviam rodeados de crianças. Nas redondezas eram os únicos com televisão, então nos domingos logo após as 15 horas a sala enchia de crianças e assim ficava desde os trapalhões até terminar o programa Ivan Castro Show.
Durante a semana ele sempre gostava de alguém ajudando na mecânica, havia encasquetado que seriamos mecânicos. Já passado dos setenta anos e sempre com uma daquelas bombinha para tratamento da asma ele se prevalecia de nós, pedindo que fizéssemos o trabalho braçal na hora de apertar parafusos, enquanto explicava a função de cada peça.
Nos sábados a tarde reuniam a criançada na garagem enquanto seminaristas traziam a palavra de Deus.