PERDÃO
Um dia muito tranquilo para a menina Juliana. Ao sair da empresa do pai naquela sexta-feira, toda a tranquilidade foi interrompida. Quatro homens encapuzados, em um carro verde, a empurraram para dentro do veículo e seguiram para o cativeiro em uma comunidade a 250 km dali. Todos fortemente armados, amarraram-na e disseram que ela só precisava cooperar, e, que em hipótese alguma, seria violentada. Com muito medo, Juliana não conseguia dizer nada, mas sentia, de certa forma, que aquele homem estava falando a verdade. Por um momento, passou pela sua cabeça que um dos sequestradores lhe era familiar.
Após uma semana de muita angústia, o primeiro contato foi feito com a família de Juliana. Foi pedido um resgate de 300 mil Reais, e estabeleceram uma condição para que a vida de Juliana fosse poupada: qualquer desconfiança de que a polícia foi acionada, eles a matariam em regime de crueldade. O pai de Juliana entrou em choque. Ele não possuía todo esse dinheiro e, mesmo que tivesse essa quantia, seria im¬possível tê-la em mãos em curtíssimo tempo como os sequestradores solicitaram.
No cativeiro, os bandidos se revezavam, dois na vigília, e os outros iam à cidade fazer as compras e os contatos. O mais diabólico de todos, desde o início, cultivava um enorme desejo doentio pela jovem. Enquanto um deles dormia, o animal tentou forçar sexo oral com Juliana. Neste instante, os outros dois estavam retornando da cidade, e aquele que mais a protegia impediu o ato e ameaçou o estuprador Casio consumasse seu feito maléfico. Como combinado ela não poderia ser tocada, então foi decidido que o agressor fosse executado, e assim aconteceu.
No meio de toda aquela confusão, o sequestrador que lhe parecia familiar, mostrou-se arrependido do crime que estava cometendo e resolveu arquitetar um plano para libertar a jovem.
No outro dia, apenas o que parecia ser o chefe do grupo saiu do cativeiro para mais um contato. O tutor da menina Juliana aproveitou para pôr o seu plano em prática. Num momento em que o seu comparsa estava distraído, ele disparou três tiros na cabeça do bandido e correu com a sequestrada. No meio do caminho, encontraram o chefe do bando retornando e, ao vê-lo, o protetor disse que a polícia havia descoberto o esconderijo e matara o outro do bando. Não acreditando na versão do comparsa, o chefe sacou da arma e ia matar Juliana. Quando Valério tomou sua frente e, mesmo atingido, conseguiu matar o chefe da quadrilha.
No meio do matagal, Juliana tentava segurar o sangue que jorrava do pescoço de Valério, e, naquele momento, resolveu retirar o capuz de sua cabeça. Para seu espanto, aquele homem que a protegera era o mes¬mo que planejou o sequestro, e era seu irmão.
Valério, um viciado em cocaína, foi internado em uma clinica de tratamento após ter roubado a empresa do pai várias vezes. Estava desaparecido há cinco anos. Havia fugido da clínica e nunca mais tiveram notícia de seu paradeiro. Na verdade, já o haviam dado como morto. Contudo, não era um mau rapaz. Mesmo nos dias de paranoia por causa das drogas, tinha verdadeira aversão à violência. Bolou esse sequestro para pagar uma enorme dívida que tinha com os traficantes para quem trabalhara aquele tempo todo em que ficou desaparecido, e, ao ser descoberto como filho de um grande empresário, teve ameaçada de morte toda família. Caso não aceitasse a condição de sequestrar sua irmã, tocariam fogo na fábrica e casa de seus pais com eles dentro. E isso ele sabia que eles eram capazes de fazer. Depois de quase uma hora, a polícia chegou ao local onde os irmãos estavam através de denúncia anônima. Infelizmente Valério já estava morto.
Porém, antes de morrer contou toda a história para Juliana e pediu que o perdoasse. Tomada de in¬controlável pranto, ela não só perdoou o irmão como o inocentou do crime, dizendo que ele a salvou dos bandidos e que aparecera ali como num milagre.