Distinta Dama

Quero sentir, cantar, falar ao sou de um estou que é a real vontade de um agora que pode ter vida própria. Quero o desejo, a devassidão de me despir da vergonha que me conforta, trazer ao sonho a lógica, presenciar a fogueira das chamas eternas com um olhar de sarcasmo, sentir o poder de uma batalha celeste entre o que é, o que será e o que nunca foi. A dádiva está na pretensão, o desejo está na promessa, o amor é o mistério... Onde esteve? Quem lhe viu? Quem realmente o sentiu?

Vivamos os sonhos proibidos, gozemos as trilhas de um pecado original, sejamos os linces que enxergam através de almas misteriosas. Que o véu caia, que o céu se prostre perante nossa soberania, que com mãos mesmo atadas as nossas vergonhas ampliadas clamem aos anseios, aos delírios, ao total que nos espera: a melhor refeição, o degustar de um total por um mínimo, sendo o nós a situação precisa e definitiva.

O que se quer se não querer o que todos querer? O que pensar se não jogar com o nosso próprio pensar? As luzem refletem as nossas sombras obscuras através das muralhas de nossa fantástica vida. Sem luz, como reconhecer os nossos mistérios, as nossas vontades, a dor, a realização e mesmo, o sou isto ou aquilo que todos vêm.

Qual é a certeza? Conhecemos as lógicas trilhas a serem seguidas? O sou já não é tão poderoso, o estou é a racionalidade real de uma realidade a qual pertencemos. Quão grande é a satisfação de um desejo consumado, o sonhar ontem e realizar amanhã, o casual conforto de uma lembrança num momento de fraqueza, o eterno recomeçar de nossas vidas.

Quero realmente sentir, viver o inimaginável, nadar em oceanos infinitos de prazer, luxúria e pecados que nem mesmo hesitamos comentar. Talvez um diabólico ser surgir dentro de uma diabólica e invejável vontade de ser feliz. Talvez um celeste arcanjo de asas majestosas contemplando a eternidade de uma inércia insignificante.

Realmente ser o que o sentir promete, ser a água de um frescor num dia de calor infernal, ser o entorpecente mais potente para a mente mais insaciável. Ser o livro, a bula, a causa e a conseqüência.

Tudo é uma grande e fantástica história entre o que se faz, o que se cria e o que é o “estou numa boa” ou o “estou realmente abalado por pensamentos mórbidos sobre a minha existência”. Quem grita a realidade pessoal sem medi-la com a métrica fita da moral? Quem realmente assume o amor proibido? Quem dita leis na involuntariedade de nossos anseios?

Somos a indagação plena, a eterna desculpa de um conforto retórico e ausente, a parede que sem pintura causa mal estar, mas também, em momentos da “loucura-mor”, somos a diva aclamada, a profecia realizada, todos os aromas das flores mais belas contidas num único vaso, o amante mais vigoroso, o beijo mais saboroso, a destreza de uma afirmação completamente concisa.

Sejam as nossas leis as mariposas que perturbam o nosso sossego e correm de nossos tapas ameaçadores, devoremos as vontades caladas, adiantemos a emancipação de nossa “terra do nunca”. O que se quer é apenas um caminho mais claro, uma vontade de mais fácil alcance, uma vida capaz, um amor possível, uma lógica que dite absurdos como composições corretas, olhar pela sedução, clamar pela aceitação, se traduzir num universo onde a única coisa não definitiva é a nossa opção, a grande e distinta dama de nossas vidas.

Flyinghard
Enviado por Flyinghard em 10/09/2014
Código do texto: T4956373
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