Bolachas e Arranques - Crônicas do Serviço Público
- Qualquer tipo de comercio dentro das repartições públicas é proibido.
- Ta falando sério?
- Eu sempre falo sério. Nem sempre falo a verdade.
Mas como proibir? Conheci estruturas empresariais que, para o estranho ter acesso é preciso identificação. Os Trabalhadores acessam, liberando portões, cancelas, roletas, pelo reconhecimento biométrico ou magnético. Repartições e empresas públicas nas capitais, não basta se identificar, tem que ter agendado anteriormente para ter acesso.
No interior do Estado qualquer pessoa entra nos espaços públicos de trabalho. Diferente disso seria uma agressão. Não há qualquer impedimento. Outro dia, li nos jornais, que um médico da rede pública, nas suas funções, sentiu-se ameaçado e temendo por sua segurança chamou a Brigada Militar, para conter ânimos alterados dos que aguardavam.
Pessoas se aproveitam dessa facilidade de acesso para vir oferecer produtos e serviços. Quase diariamente alguém informa, antes do almoço, qual será o cardápio do restaurante em frente a repartição e faz isso de boca a boca. Trufas para financiar estudos, amanteigados produzidos num seminário habitado por dependentes químico, rifas, sorteios, peixes, fichas de almoço, peças íntimas, adesivo para unhas, uma infinidade de ofertas. O mercado público municipal que se cuide. Outro dia um banco, solicitou espaço para ofertar créditos!
Portanto, ninguém questiona a vovó da bolacha que não falta uma só sexta feira. Sempre pela manhã, com suas duas cestas cheias de produtos vendendo cada pacotinho por três reais. Tem rapadura, pé de moleque, amanteigados, de polvilho, de milho, de mel, calça virada...
Podem comprar o moleque tem os pés bem limpinhos, faço propaganda.
Mas na sexta, o doce é estratégico, pois segundo consta ele tem efeitos afrodisíacos. Sua mistura de amendoim com melado é calórico e altamente energético. Comentários afirmam que o consumo de um saquinho do doce é garantia de baterias carregadas para o sábado e domingo.
Essa cultura discricionária, bisbilhoteira, quase um bullying, faz com que se observem mutuamente na saída, os servidores. Volumes e sacolas que carregam. São todos olhando para todos. Se alguém transporta uma embalagem contendo o doce é suficiente para que os outros liberem seu espírito com farto sorriso. Se algum aparece com o dobro da dose, desconfiam e vão pegando no pé.
- Mal intencionado, hem!!!?
A Salvação tem sido uma segunda "rapadureira" que tem vindo em dias alternados. Assim, é possível fazer surpresas ao longo da semana, levando uma farta dose de rapadura, para casa, na terça, na quarta....