Ressaca de adulto, sonho de criança
Fiquei imaginando para quantas mentes lúcidas minha embreaguez fez alguma diferença. Em miúdos semblantes daqueles pálidos rostos notei qualquer pingo de austeridade, mesmo que seja nas linhas controversas que rimassem com prosperidade.
Notei qualquer momento de infância das faces incompletas dos jovens que se perdiam em meio ao emaranhado de informações que caíam em suas cabeças como um balde de água fria.
Notei qualquer semelhança com minha própria imagem de vinte anos querendo ser criança e assim ter a maturidade suficiente de salvar o mundo.
Notei três pitadas de sal a mais naquela receita antiga de torta que faziam todas as crianças da redondeza esquecerem suas vidas dificeis sem uma bola, sem um pai e sem uma mãe.
Então voltei a imaginar minha embreaguez me jogando no chão e quase rasgando toda minha roupa. Me fiz de fácil para esquecer que de tanto sofrer aprendi a bater com força na cara de quem sorria falsidade para mim. Bati também em sorrisos que me alegravam duas ou três vezes por noite para que no outro dia pudesse começar tudo novamente.
Nem notei que andava sem rumo pela mesma rua que chorei tantas vezes querendo um time para jogar. Eu notei que eu ainda não estava sonhando, e que eu buscava somente um bom lugar para descansar.