Quando a Vida nos coloca, por algumas vezes, frente ao misterioso e mágico Portal da Grande Passagem, e, por oculta razão, proíbe-nos a passagem; ao retornarmos dessa “experiência de quase morte” à nossa cela orgânica, claramente, adquirimos renovada força algo titânica. Desde então, passamos a ter um olhar mais profundo sobre todas as coisas da vida, porém, antes, levamos um tempo vazio meio que sem rumo, como se estivéssemos perdidos, deslocados no Mundo. A Alma, essa não é mais a mesma, conhece uma parte da verdade que poucos conhecem: só revelada aos que foram iniciados no ritual da Grande Passagem.
Quando esse fenômeno ocorre, de o Espírito, estando ante o Grande Portal, voltar para as lidas do mundo, ele (o Ser Espiritual) sabe que a Providência Divina está lhe dando uma nova chance de refazer algo que fez de errado ou terminar algo que tinha de terminar, algo que acarretará na melhora de si mesmo, que o habilitará a retornar (da próxima vez, definitivamente) numa situação que o faça merecedor de um bom lugar lá do outro lado do Portal. Por isso, consciente de que precisa aproveitar a oportunidade, passa a viver mais intensamente; a aproveitar cada momento da vida da melhor maneira possível, agindo com autenticidade; procurando ver, dos valores que acostumava dar para as coisas, as pessoas e as ações quais são reais, de verdade. A partir de quando passamos a resinificar, ou seja, a dar um novo significado para nossa vida algumas coisas como que por encanto, perdem o encanto; outras, no entanto, que não nos eram tão importantes, essas, passamos a dar lhes novos valores, mais relevantes. Os motivos que atiçam a vaidade humana perdem suas cores, não nos atrasem tanto; o julgamento humano já não ocupa o primeiro plano. Tudo na Vida adquire novos encantos, novos valores mais nobres, mais grandiosos; o ser humano: suas alegrias, suas tristezas, suas dores, seus amores, por natural empatia, inspira-nos profunda simpatia.
As necessidades, as exigências da máquina orgânica, indiferentes, continuam como antes com sua força tirânica exigindo de nós, que as atendamos na hora que elas exigem, como crianças birrentas (fome, sede, sexo, sono,...); mas como o espírito deve sobrepor-se à matéria bruta, e como esta dualidade humana está sempre em luta, é no calor da disputa que se burila a alma ainda bruta. E, apesar da certeza que todos temos, principalmente os iniciados nas coisas da Passagem, de que chegará o Grande Momento, nossa grande luta é para permanecermos a mais tempo possível no corpo de carne, pois, cada dia no corpo carnal é oportunidade sem igual para uma vida melhor do outro lado do Grande Portal.
-Dedico esta crônica um amigo que,
com sua experiência transcendental de “quase morte”, inspirou-me a escrevê-la;
também, porque vivi mais de uma essa experiência, sobre as quais nunca
tive vontade de narrar ninguém oralmente; acho que para evitar que duvidassem
da minha palavra, pois o que mais existe é gente descrente de tudo; e sempre achei que essa experiência interessa, particularmente, a mim!