SOU UM BÍGAMO!

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À Selma Calasans Rodrigues, leitora de Portugal

Sou um bígamo cultural: amo minha esposa, a crônica, mas mantenho a poesia como amante!

Sou casado com a Yara, com a crônica e tenho como amante a poesia, mas não a visito como gostaria de fazê-lo; só raramente, quando sinto muitas saudades...Hoje, me divido com a esposa que me perdoa porque o primeiro foi livro publicado foi de poesias, em 1982, (Des)Construção..., lançado no salão de espelhos do Atlético Rio Negro Clube. Era um livro escrito em minha juventude, mas que foi parcialmente censurado, republicada 23 anos depois do fim da censura militar, pela Prefeitura Municipal de Manaus, na administração do prefeito Alfredo Nascimento, no projeto “Valores da Terra”. Mas, antes, tive amantes, a primeira delas foi a máquina de escrever Olivetti línea 98, Depois, a Toyota For Ranner vermelha, meu vermelhinho “Toschiba” agora é um preto Lenovo. Com todas as “amantes” me abria e contava meus segredos mais íntimos, escrevendo. Não fazia a mesma coisa com a For Ranner, que apenas me transportava!

A primeira amante que tive, a máquina de escrever Olivetti Línea 98, adquiri depois de receber o prêmio em dinheiro, de terceiro colocado no Concurso Nacional de Contos de Paranavaí, no Estado do Paraná, com o conto “Esses Ladrões”, escrito em plena época da ditadura militar, quando não se podia criticar nada. Eu tive a ousadia de criticar os impostos e acho que foi por isso que fui classificado. Mas não tenho certeza!

Hoje, me divido entre Yara Queiroz, que a amo, as crônicas que escrevo e publico e mantenho como amante a poesia, mas só de vez em quando a visito, embora ela cobre minha presença com mais afinco, mas sempre lhe invento desculpas...ela entende, porque não é ciumenta! Contudo, fica triste com minhas costumeiras ausências, Ela gostaria que me de tornasse mais constante. Mas não sou poeta, apenas a pratico de vez em quando essa arte que acho difícil. Explico-lhe que sou casado, sou cronista, mas como escreveu a professora e relações-públicas Ierecê Barbosa, em meu livro “CRÔNICAS COMPROMETIDAS COM A TUA VIDA”, (carloscostajornalismo.blogspot.com) “todo cronista é um poeta também”. Por isso, considero-me um bígamo cultural e não sou constante com ninguém. Amo minha esposa, gosto da crônica e mantenho como amante a poesia, Eu sempre amei a crônica e, em todos jornais em que fui Editor Geral, levava sempre cronistas para publicá-los na página de opinião, que eu escrevia. Geniais cronistas me acompanharam, o paraibano Marcelino Ribeiro e a professora Ierecê Barbosa, que os convidei para publicar no Diário do Amazonas. Ambos me procuraram e eu os aceitei porque escreviam com uma fluidez que me impressionava. Contudo, aprendi como produzi crônicas lendo os textos publicados por Plínio Valério, no Caderno VIDA, de A CRÍTICA, hoje político. Ele foi minha inspiração maior, complementada por outros autores, igualmente geniais.

Nunca escondi minha admiração intelectual e também não escondia que no tentava imitar estilos positivos de cada autor, como também chegava a imitar estilos de cronistas como Vinícius de Moraes (PARA UMA MENINA COM UMA FLOR), Cecília Meireles, Carlos Drumond de Andrade e, principalmente de Ruben Braga, considerado um dos melhores do gênero no Brasil. Na juventude, li, reli e me diverti várias vezes com a genial obra “O Analista de Bagé”, de Luiz Fernando Veríssimo e sua forma satírica, crítica e cômica de escrever, falando de assuntos sérios com muito humor e sátira!

Li quase todos os livros da coleção “Para Gostar de Ler”, da Editora Ática, reunindo cronistas consagrados como Paulo Mendes Campos, Afonso Romano de Sant´Anna, Fernando Sabino e Rubem Braga, que sempre me presenteava o proprietário da livraria Nacional em Manaus, José Maria, quando comecei a escrever no Jornal A Notícia, uma coluna que comentava obras literárias. A coleção era destinada a estudantes do ensino fundamental e médio. Foram livros de crônicas que marcaram uma geração e até hoje são lembrados com saudades, porque através deles, dei meus primeiros passos na crônica. A coleção surgiu na década de 70 e reuniu cronistas como Affonso Romano de Sant´Anna, que telefonou para Jiro Takahashi pedindo que telefonasse para ao cronista Rubens Braga para saber por que era tão usado em sala de aula, não se refletindo na divulgação e muito menos na venda de seus livros em livrarias. Com o estímulo de Afonso Romano de Sant´Anna, Takahashi decidiu ousar e criar o ele mesmo definiu como “uma loucura saudável”, a coleção até hoje lembrada por muitos que gostavam de ler no passado, sobretudo crônica.

Como me tornei cronista?

Devido à censura que recebia nas poesias de jogo de palavras, descobri que os censores não entendiam nada do que seria crônica e passei criar personagens e continuar criticando e satirizando o Governo Militar que se instalou no Brasil em 1964. “Não sou eu quem está dizendo isso, mas a personagem por mim criado”, dizia sempre quando questionavam alguma coisa mais forte que escrevia e deixavam passar. No dia seguinte, me divertia muito com comentários de leitores que me paravam na rua e perguntavam: “Qual será a crônica de domingo que vem?”. Apenas dizia, “espere e lerá” porque nem eu mesmo sabia o que aconteceria com Eleutério, analfabeto casado com uma socióloga e que se envolveu em política e disputou cargo de vereador e já exigia imunidade parlamentar para entrar em festas de bailes de carnaval, além de apresentar projetos para resolver o problema da dívida interna do Brasil. “É só não pagar”, aconselhava Eleutério, sem pensar nas consequências e sem entender que vereador não podia legislar sobre assuntos de esferas federais.

Ganhei gosto pela crônica e a defino como uma produção atemporal, descrevendo uma foto, transportando o leitor para o local do acontecimento, mesmo sem nunca ter estado ou visitado o que está sendo descrito. Assim, me tornei cronista, mas não nego que sofri influências de muitos cronistas melhores do que eu porque de cada um recolhi as melhores coisas e criei meu próprio estilo que é não ter estilo algum, mas escrever o que quero, gosto e sinto vontade de registrar. Entenderam por que eu me considero um bígamo cultural? Não pratico um só estilo de literatura, mas não sei se cada um dos que pratico – científico, romances, sociais, filosóficos – os faço bem! Mas eu amo a crônica como também amo minha esposa Yara Queiroz!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 08/09/2014
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