Nunca mais ele abandonou a floresta

Não digo que terminei hoje de ler "O jogo das contas de vidro", de Hermann Hesse, porque esse livro não se termina – pelo menos não para aqueles que se deixam levar por sua magia, que se entregam de corpo e alma a essa leitura que é ao mesmo tempo uma viagem de autoconhecimento, um encontro consigo mesmo, com a natureza e com Deus. Não se termina porque sua voz suave e reconfortante não cessa dentro de nós com a palavra “fim”, lida com tristeza na última página, após a frase “Nunca mais ele abandonou a floresta”; uma voz que continua soando como leve brisa benfazeja, lembrando-nos do que realmente importa nessa vida: amor, compaixão, serenidade, humildade e simplicidade.

Lançado em 1943, "O jogo das contas de vidro" é um livro atemporal, universal, escrito por um homem que, além de grande escritor, era um sábio, um profundo conhecedor da alma humana. Seu texto é simples, fácil de ler, mas nem todos que o leem conseguem entendê-lo, porque estão presos demais à superfície, às batalhas efêmeras da ambição. O próprio Hesse afirmou certa vez que os leitores que menos o entendiam eram os americanos do norte. Ora, por quê? Certamente por se tratar de um povo apegado demais a uma ideia de sucesso que valorizava, acima de tudo, as conquistas individuais no mundo do trabalho (capitalista), ligadas a dinheiro, reconhecimento e poder, e não o ser, a harmonia com o todo, a paz de espírito, a alegria simples de existir...

Nunca um livro me fez tão bem quanto esse – e continua fazendo... Com ele na alma sinto-me mais próximo do bem viver, embora o conflito entre o que eu entendo como minha essência (ou minha verdade) e as demandas da superfície continue existindo... Mas certamente com menos força, com menos dor...

Obrigado, Hermann Hesse!

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 07/09/2014
Código do texto: T4952577
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