O Cupido ainda é vivo?

A mitologia grega nos relata de um deus chamado Cupido. Um deus- menino com voz afável, cabelos encaracolados, o mais temido de todos os deuses. Cupido esconde malícia nos gestos pueris de uma criança, ou melhor, de um lobo que se esconde na pele de um cordeiro. Ele é detentor de uma força que faz com que todos os seres se sintam irremediavelmente atraídos uns pelos outros.
Não se sabe ainda hoje quem é seu pai, mas muitos poetas aceitam por lhe dar Vênus por mãe. É natural que Cupido seja filho da beleza.
Muitos acham tal história fantasiosa. Uma mera veleidade do povo grego. Ainda que o fosse, as lendas gregas não perderiam seu prestígio uma vez que são influentes na cultura ocidental, em especial na medicina: quem nunca ouviu falar em complexo de Édipo, doenças venéreas...? Hipócrates, médico grego, é considerado por muitos o pai da medicina. Seus escritos ainda são estudados. Foi ele, por exemplo, que disse que as condições de saúde de um povo estão ligadas ao seu ambiente de vida, seus hábitos e costumes. Freud ressalta dois potenciais do ser humano: o do progresso e o da auto-destruição: Eros e Tânatos. Tânatos deus da morte; Eros deus do amor, Eros, Cupido.
Eros é Cupido adulto, amigo de Antero. Cupido é sua forma astuta.Pueril. Guri algoz, com uma flecha no arco. Olhos postos nas suas vítimas. Cupido antes de Antero não crescia, preocupada Vênus conseguiu que ele fosse seu amigo. Entretanto, quando era abandonado voltava à infância. Ou seja, o amor precisa ser recíproco.
Então, onde está o Cupido? Teria sido morto por Jupiter? Ou vitimado por Zeus? Tentei mandar um e-mail para Vênus, mas me lembrei de que ela está sem velox, em vão busquei a ajuda de Antero, mas há muitos anos ele não fala comigo, brigamos. A clínica do Dr Hipócrates está lotada, além da consulta ser cara, ele não atende pelo SUS. Procurei Cupido exaustivamente por todo mês de abril, sem êxito. Para o bem das divindades e dos que têm medo do amor, resolvi então o dá-lo por morto.
Foi quando, em fim, encontrei-o. Circunstâncias estranhas. Momento inoportuno.
Estava eu a ler poesias no Recanto quando, de repente...
" Ai, meu grito foi ensurdecedor, minha carne se esvaía em sangue, debruçado diante do computador, balbuciei umas poucas palavras:
" Por onde entraste?
" Pela janela.
" Estás vestido. Quem te viu, quem te vê, heim guri!?
" Estou com frio.
" De onde vens?
" Do sul.
" Porto Alegre?
" Não.
" Morro Reuter.
" Não.
" De onde, então?
" Bagé.
" Tens notícia do Analista, ou da Lindaura?
" Sumiram. Estás doente, tchê?
" Por que falas tchê, se não és gaúcho e sim grego?!
" Por que tu, se és mineiro?
" É... É...
"Bom, queres café?
"Não
"Cachaça?
" Estou sem apetite.
Ainda zonzo, com o guri do meu lado. Me pus a ollhar para o computador. Um artigo, li de uma sentada. O texto era sobre os festivais gaúchos. A autora, muito jovem. Linda. Foi quando li o nome de sua cidade de origem que entendi tudo:"Bagé". E que ternura me domou neste momento. A mim, homem.
"Guri, disse para meu hóspede.
" Que é?
" Estás a serviço de quem?
"Ninguém.
"Por que me flechaste?
"Para matar as saudades.
Louco, desvairado. Este guri não tem mesmo jeito.
"Tu me feriste a pedido da guria?
"Humm Humm.
" Olha, Leandro, a conversa tá boa, tu és muito hospitaleiro. Mas preciso ir.
"Insisto, por que tu, se és grego?
" Adeus.
"Vais para o sul? Leva-me contigo.
"Não, vou dar uma passadinha no Paraná.
Juro, Cupido estava gélido de frio, com casaco de couro gaúcho, além de uma cuia com chimarrão. Sinceramente, não sei o que veio fazer por estas bandas. O que sei é que esteve em minha casa. Era noite. Partiu sem dizer pra onde.
Desde então, me dedico a mandar mensagens para o sul. E-mails diários, repletos de um afeto que nunca acaba. Ao contrário, cresce, cresce e se renova a cada dia. A guria responde com carinho a todos. Sou agora teu gurizinho, ela minha guria. Imagino-a de gorro, numa lareira. De mãos dadas com este poeta. Lendo histórias: Pedro Nava, Capote, Dyonélio Machado... E é com saudade no peito, um afã por nosso encontro e uma imensa ternura nos olhos que encerro este conto. Sei que quando Deus faz duas pessoas cruzarem o mesmo caminho, sobretudo quando elas têm afinidades não é por acaso. Ele tem um plano. E bendito seja este plano!

Este conto não visa expressar nenhuma opinião religiosa, social ou política!

É pra ti, guria que adoro! É  baseado na mitologia grega.  Extraí do site mundo dos filósofos  a história do cupido, fantasiando sobre ela.
Leandro Pereira
Enviado por Leandro Pereira em 21/05/2007
Reeditado em 31/08/2009
Código do texto: T495114