Um acontecimento para ficar na história

Hoje o casamento é um motivo pra muitas festas. É uma cerimônia que está, a cada dia, mais rara no seio das famílias. Nem os homens, nem as mulheres estão querendo compromissos sérios. Depois que inventaram o tal "ficar" o negócio piorou de vez. Se antes essas uniões já estavam complicadas... agora ficaram quase impossíveis.

Para meu espanto, neste fim de semana fui gentilmente convidado para o casamento do filho de um dos meus melhores amigos. O noivo, um rapaz educado e vistoso, quase um veterinário. Tudo nos levam a crer que será, em um futuro bem próximo, um "belo" cuidador de animais. A noiva, uma jovem esguia e absolutamente bela, carregava traços delgados e perfeitos. Estava deslumbrante e ao mesmo tempo deslumbrada com a sua festa.

Os parentes da noiva estavam todos do lado direito de quem entra na igreja, do lado esquerdo estava a família do noivo. Os convidados iam se posicionando corretamente com a ajuda da responsável pelo cerimonial que estava postada na entrada da igreja, com gestos simples e singelos, indicava para todos o lugar de assento. Esse processo foi relativamente simples porque a noiva, prevenida e astuta, pediu aos seus convidados masculinos que colocasse um botão de rosa vermelho na lapela de seus ternos.

A cerimônia mais parecia uma peça de teatro. Quase tudo havia sido generosamente estudado e ensaiado inúmeras vezes. O comportamento das crianças era exemplar sem ser exagerado. As sogras davam um verdadeiro show de simpatia, cada qual à sua maneira.

A cerimônia corria na mais perfeita ordem, até que o padre solicitou a entrada das alianças para serem abençoadas. O normal e corriqueiro, em todos os casamentos que tenho assistido é que as alianças são levadas pela criança mais nova das famílias, geralmente por uma menina. Mas nem sempre o que é comum é normal ou serve para todos eventos. A surpresa estava por vir. A porta de entrada da igreja estava devidamente fechada para que ninguém visse, de antemão, o que estava por acontecer.

Quando as portas foram abertas lá estava um dog alemão daqueles pintados de branco e preto, com as orelhas erguidas em posição de sentido. Estancado como uma estátua de granito. Portava em seu pescoço o cesto onde estavam guardadas as alianças. A cena por si só era assustadora. O padre engoliu a seco suas últimas palavras, a noiva sorria enquanto o público trêmulo de medo nem ousava respirar.

Quando o cão deu os primeiros passos em direção ao altar e os clarins anunciaram o Bolero De Ravel, foi uma loucura...

Os músicos esqueceram de ensaiar com o cachorro que, assustado, saiu em disparada sem qualquer direção definida, trombou com uma senhora da terceira idade que, na confusão perdeu a dentadura. Sem mais nem menos gritou:

__ O cachorro comeu os meus dentes.

Os noivos desapareceram como fumaça de índio, ninguém mais os viu, certamente ainda estão rindo dos seus convidados em lua de mel.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 21/05/2007
Reeditado em 06/10/2017
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