A FÉ

Havia uma senhora que vivia sentada numa mesinha com duas cadeiras. Do lado da mesinha existia uma caixinha com os seguintes dizeres: “A fé é um prêmio para o próximo”. Ao certo, não entendera esses dizeres, mesmo rodeando a mesinha todos os dias, tendo em vista que era o caminho do meu trabalho. Estranho, quando um cronista não entende as situações cotidianas, mesmo que sejam manifestações religiosas de romeiros desamparados pelo mundo.

A minha confusão mental aumentara quando uma grande fila se formara em torno da mesinha. A doce velhinha estava recebendo donativos como nunca. Será que os brasileiros se tornaram bons samaritanos? Ou é uma nova santa operando milagres? Pois eram pessoas de todas as classes sociais, de todos os tipos e de todos os trajes. Havia uma manifestação histérica causada por algo sobrenatural. A cada semana era um novo milagre, que dava pra ser observado nos pulos e nos gestos de agradecimentos a divina representante de Deus.

A macróbia recebia os “mangos”, depositava-os na caixinha e os transeuntes recebiam em troca bilhetinhos. Seria uma beata religiosa adepta do nosso santo frei Galvão? Seriam pirulas de papel? O certo é que as pessoas saiam levemente do local e tomavam as pressas os mais variados rumos.

De concreto, somente a felicidade e a ternura que reinava nos olhares hipnotizados dos fieis da santa senhora. Não me agüentara de curiosidade, todavia minhas suspeitas infundadas indicavam alguma coisa fora do “texto do sacro”. Fizera uma aproximação sorrateira da mesinha e disparei pra macróbia:

- Quinzes reais no macaco! Falou o cronista, que sonhara na noite anterior com esse bicho.

- Meu senhor quer um bom palpite na fezinha? Vai "carregando” no Tigre, porque estou com imensa vontande de comer bolo de “trigue”. Falou a cambista sentada na cadeirinha.

Moral da estória: Quase todo brasileiro precisa de “fé” pra viver, tendo em vista que a contravenção é um grande remédio contra a depressão.

Osório Antonio da Cunha
Enviado por Osório Antonio da Cunha em 21/05/2007
Reeditado em 21/05/2007
Código do texto: T494991
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