EU NÃO ESCREVI SOBRE A MOÇA

Dia desses encontrei uma moça na rua e percebi que ela exalava textos pelos poros. Não sei dar um exemplo claro, mas talvez o modo dela se vestir, o olhar perdido, a forma delicada e semblante preocupado que ela trazia. Pensei numa frase que a definia no momento e decidi: ótima frase pra se começar uma crônica. A moça era praticamente o texto todo. Mas minha passagem por ela foi rápida e eu precisava dar continuidade nas linhas do meu dia. Obviamente, e não raro, a inspiração toda foi perdida nas horas. E ficou na minha memória, apenas a lembrança muda dela. Eu queria escrever sobre a moça. A ruga franzida na testa passou a ser minha, até que a preocupação deixasse de ser a moça, e sim, a própria fuga da inspiração que ela causou. Afinal, essas coisas todas vêm de dentro pra fora, ou de fora pra dentro? Algo precisa ser mudado na superfície dos meus pensamentos, pois é ali que meus textos se perdem. Embora eu ainda venha analisando a possibilidade de ser exatamente ali que eles começam. E eu não escrevi sobre a moça.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 04/09/2014
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