Meu amigo Magayver

Conheci meu amigo Mário apelidado por nós de Magayver dado às suas inúmeras habilidades, quando realizávamos vários treinamentos para lidar com situações de emergência. Praticamente não havia nada que meu amigo não soubesse fazer bem. Com entusiasmo idealista ensinava a todos gratuitamente os seus conhecimentos. Realizávamos acampamentos com grupos grandes de pessoas, onde passávamos alguns dias sob situações inóspitas, ensinando diversas técnicas de sobrevivência. Estes treinamentos estavam abertos a todos que deles quisessem participar. Somaram-se a nós especialistas em salvamento oriundos de todos os cantos do país e do mundo, que nos ajudaram a difundir os mais variados conhecimentos. Em certa ocasião viajava à noite com meu amigo para um treinamento, que seria ministrado em um acampamento, por um médico ortopedista. Por volta das duas da manhã deparamo-nos com um acidente na estrada. Um veículo onde viajava uma família havia caído em um despenhadeiro. De pronto iniciamos o resgate, pois na Van em que viajávamos tínhamos todos os equipamentos necessários e a perícia para realizá-lo. Quando a polícia rodoviária federal chegou, já estávamos subindo a ultima vítima e já havíamos despachado as outras para hospitais da região. Contamos com a ajuda de vários caminhoneiros, que se somaram a nós. Ao término, quando fazíamos uma varredura final do local, um dos caminhoneiros me entregou um “braço”. Corri para Van e após lavá-lo da melhor forma possível, o embalamos com gelo e o deixamos no hospital. Incrível, mas meu amigo tinha tudo na van, água, geladeira, gelo, saco plástico, além dos equipamentos de resgate e sabia exatamente o quê e como fazer. Foi o médico ortopedista que ministrou o treinamento do qual iríamos participar, que reimplantou o braço perdido. Segundo ele a técnica consiste em lavar várias vezes com soro, veia por veia e quando o membro volta a sua posição original, o sangue volta a circular, vivificando o membro. Entre outros fatores o reimplante deu certo por ter sido resgatado de forma correta. Foram inúmeras situações práticas de resgate, que vivenciei ao lado do meu amigo Magayver. Até que um dia tive a seguinte visão: Meu amigo havia mergulhado num lago de águas turvas para fazer um resgate, mas a situação fugiu a seu controle e ele começou a se afogar. Fiz tudo que era possível para salvá-lo, mas não teve jeito ele sempre escorregava da minha mão e desapareceu. No outro dia meu amigo morre vítima de problemas, que incharam o seu cérebro. A visão deixou em mim a forte sensação, que apesar de todo treinamento e já ter salvado inúmeras vidas, a vida dele não pude salvar. Aprendi que absolutamente nada está sob nosso controle. A vida para nós humanos é um imenso mistério.