Aos contadores das estórias
 
   O mundo das crianças não é tão risonho quanto se pensa. Há medos confusos, difusos, as experiências das perdas, bichos, coisas, pessoas que se vão e não voltam... O escuro da noite: o mundo inteiro se ausentou.
Voltará? 
   Os grandes não gostam disto e inventam estórias de meninos e meninas que eram só risos. Talvez para se convencerem a si mesmo de que sua própria infância foi gostosa...
   Escrevi as estórias da Coleção ESTÓRIAS PARA PEQUENOS E GRANDES em torno de temas dolorosos, que me foram dados por crianças. Não é possível fazer de conta que eles não existem  Os maus espíritos, a gente os espanta chamando-os pelo seu nome real... O objetivo da estória é dizer o nome, dar às crianças símbolos que lhes permitam falar sobre seus medos. E é sempre mais fácil falar sobre si mesmo fazendo de conta que se está falando sobre flores, sapos, elefantes, patos... 
  Há estórias que podem ser escutadas em disquinhos ou simplesmente lidas sozinhas... São as estórias engraçadas. Outras devem ser contadas por alguém.
  Quando se anda pelo escuro do medo, é sempre importante saber que ha alguém amigo por perto. Alguém que se lê e nem o disquinho que se ouve tem o poder de espartar o medo.
   É preciso que se ouça a voz de um outro e que diz:
   – Estou aqui, meu filho... 

                                           Rubem Alves

Alves, Rubem, "Como nasceu a alegria, Ed. Paulinas. SP, 1987
Rubem Alves
Enviado por RG em 31/08/2014
Reeditado em 31/08/2014
Código do texto: T4944185
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