A moda da Violência

Caçapava é uma cidade pitoresca, provavelmente um dos lugares com mais figurinhas carimbadas por metro quadrado do Brasil. No meio de tantas vou contar a história do Normal, um professor de Português totalmente bicho-grilo, do tipo que não sai de Trindade ou São Tomé das Letras, usa roupa surrada e um gorro jamaicano de lã até no verão.

O apelido do meu amigo se deve ao fato dele sempre repetir esta mesma palavra, você pode dizer que o mundo está acabando e ele dirá:

- Normal...

Certo dia enquanto ele fazia compras em um pequeno mercado da periferia teve inicio um assalto, dois meninos armados liderados por um assaltante adulto renderam todas as pessoas do recinto, algumas até com certa violência, mas com o Normal foram um pouco mais gentis. Pediram para todos irem até o fundo do mercado onde roubaram as carteiras, bolsas, relógios e celulares.

Com uma calma espantosa Normal pediu para que os bandidos devolvessem seus documentos, foi quando o líder do grupo disse a um dos menores:

- Devolva a carteira do Maluco!

E quando o menor ia retirar o dinheiro para devolver somente a carteira o líder esbravejou:

- Devolve com tudo, não rapa nada do camarada!

Normal de posse de sua carteira percebeu os olhares distorcidos das outras pessoas que estavam sendo assaltadas, afinal o tratamento com ele estava sendo bem diferente. Com o final do assalto todos seguiram seus caminhos, mas apenas o Normal voltou para casa com sua carteira e dinheiro.

Essa pequena historinha ilustra um novo fenômeno no trato visual em nosso país, além de termos que adotar um visual sóbrio para o trabalho, um mais sofisticado para festas e casamentos, um esportivo para passeios e práticas esportivas, devemos começar a pensar num visual próprio para sermos assaltados, visual que sensibilize os bandidos, e estes possam perceber que independente dos problemas sociais somos todos semelhantes.