Lupicínio Rodrigues
Saudade é a vontade de ver de novo.
Lupicínio
1. No século passado, tive uma namorada noturna que adorava músicas apaixonadas, bregas ou não. Discos que serviam para curar uma dor-de-cotovelo ou, se fosse o caso, alimentá-la, ela os comprava e os escutava até altas horas! Falo de coisas do século passado.
2. Nesse tempo, o CD não existia. Lançado em 1948, era o disco 78 rpm que invadia as lojas e dominava as discotecas. Rapidamente, foi o 78 sendo substituído pelo LP (Long Play), um disco mais leve e com maior número de músicas gravadas. Em 1964, o 78 rpm deixou de ser produzido.
3. Voltando à minha romântica namorada noturna. Ela guardava, na sua cheirosa e olorosa alcova (arre!) zelosamente arrumados, os 78 e os LPs que estimulavam sua perigosa facilidade de se apaixonar por alguém e sua incrível capacidade de sofrer por uma paixão que não deu certo; a tal da dor-de-cotovelo ou dor-de-corno.
4. Um dia, por um desses cochichos de pé de ouvido, vim a saber que a fulana rodava, ene vezes, madrugada adentro, uma música do Lupicínio Rodrigues, lembrando, segundo ela, o nosso amor que terminara, digo eu, por causa de suas exacerbadas crises de ciúme.
5. Brasa, esta era a canção, gravada por Orlando Silva em 1945. Recorde.
Você parece uma brasa
Toda vez que chego em casa
Dá-se logo uma explosão.
Ciúmes de mim não acredito
Pois meu bem não é com grito
Que se prende um coração
Desculpe a minha pergunta
Nas quem tanta asneira junta
Ensinaram a falar
Meu professor bem podia
Ensinar que não devia
Deste modo me tratar
Se às vezes você chora
Quando eu passo as noites fora
Não venho em casa almoçar
É ... que as mulheres da rua
Tem a alma melhor que a tua
Sabem melhor me agradar
Se às vezes eu me demoro
É diminuindo a hora
Para contigo eu estar
Se apagasse essa brasa
Eu não sairia de casa
Dia e noite a te adorar.
6. O que acontecia. Ora, nem éramos casados e ela, inconformada com minhas "fugidinhas" de jovem romântico e árdego, virava uma brasa quando eu voltava pros seus braços, depois de pequenas ausências.
Vendo-a como uma tocha ardendo de ciúme, procurava aplacar sua "ira" lembrando este conselho do Lupicínio: "As esposas devem se sentir felizes quando seus maridos voltam de suas noitadas, porque sua volta é a maior prova de amor que um homem pode dar. Depois de ver tantas mulheres, nenhuma o prendeu e ele retorna feliz para dormir nos braços daquela que escolheu para ser a sua companheira."
Jamais consegui convencê-la dessa verdade que o Nelson Rodrigues não hesitaria em chamar de uma "verdade eterna". E aí, tudo acabou.
***
Lupicínio Rodrigues, velho e querido boêmio! Inventor da consagrada expressão "dor-de-cotovelo". Autor e compositor de canções inolvidáveis como Vingança, Esses moços, Nervos de aço, Ela disse-me assim, Torre de babel, Felicidade, Cadeira vazia e Se acaso você chegasse...
Lupicínio Rodrigues nasceu no dia 16 de setembro de 1914, em Porto Alegre, e morreu no dia 27 de agosto de 1974, na sua cidade natal.
Lupicínio Rodrigues que este mês fez 100 anos. Seu centenário, sejamos francos e claro, não foi lembrado como era de se esperar. No dia 27, visitei rádios e televisões e não ouvi nem vi um "Especial" contando sua vida e lembrando suas músicas. Não lhe prestaram a homenagem que merecem os compositores que pela beleza de sua obra se tornam imortais.
Saudade é a vontade de ver de novo.
Lupicínio
1. No século passado, tive uma namorada noturna que adorava músicas apaixonadas, bregas ou não. Discos que serviam para curar uma dor-de-cotovelo ou, se fosse o caso, alimentá-la, ela os comprava e os escutava até altas horas! Falo de coisas do século passado.
2. Nesse tempo, o CD não existia. Lançado em 1948, era o disco 78 rpm que invadia as lojas e dominava as discotecas. Rapidamente, foi o 78 sendo substituído pelo LP (Long Play), um disco mais leve e com maior número de músicas gravadas. Em 1964, o 78 rpm deixou de ser produzido.
3. Voltando à minha romântica namorada noturna. Ela guardava, na sua cheirosa e olorosa alcova (arre!) zelosamente arrumados, os 78 e os LPs que estimulavam sua perigosa facilidade de se apaixonar por alguém e sua incrível capacidade de sofrer por uma paixão que não deu certo; a tal da dor-de-cotovelo ou dor-de-corno.
4. Um dia, por um desses cochichos de pé de ouvido, vim a saber que a fulana rodava, ene vezes, madrugada adentro, uma música do Lupicínio Rodrigues, lembrando, segundo ela, o nosso amor que terminara, digo eu, por causa de suas exacerbadas crises de ciúme.
5. Brasa, esta era a canção, gravada por Orlando Silva em 1945. Recorde.
Você parece uma brasa
Toda vez que chego em casa
Dá-se logo uma explosão.
Ciúmes de mim não acredito
Pois meu bem não é com grito
Que se prende um coração
Desculpe a minha pergunta
Nas quem tanta asneira junta
Ensinaram a falar
Meu professor bem podia
Ensinar que não devia
Deste modo me tratar
Se às vezes você chora
Quando eu passo as noites fora
Não venho em casa almoçar
É ... que as mulheres da rua
Tem a alma melhor que a tua
Sabem melhor me agradar
Se às vezes eu me demoro
É diminuindo a hora
Para contigo eu estar
Se apagasse essa brasa
Eu não sairia de casa
Dia e noite a te adorar.
6. O que acontecia. Ora, nem éramos casados e ela, inconformada com minhas "fugidinhas" de jovem romântico e árdego, virava uma brasa quando eu voltava pros seus braços, depois de pequenas ausências.
Vendo-a como uma tocha ardendo de ciúme, procurava aplacar sua "ira" lembrando este conselho do Lupicínio: "As esposas devem se sentir felizes quando seus maridos voltam de suas noitadas, porque sua volta é a maior prova de amor que um homem pode dar. Depois de ver tantas mulheres, nenhuma o prendeu e ele retorna feliz para dormir nos braços daquela que escolheu para ser a sua companheira."
Jamais consegui convencê-la dessa verdade que o Nelson Rodrigues não hesitaria em chamar de uma "verdade eterna". E aí, tudo acabou.
***
Lupicínio Rodrigues, velho e querido boêmio! Inventor da consagrada expressão "dor-de-cotovelo". Autor e compositor de canções inolvidáveis como Vingança, Esses moços, Nervos de aço, Ela disse-me assim, Torre de babel, Felicidade, Cadeira vazia e Se acaso você chegasse...
Lupicínio Rodrigues nasceu no dia 16 de setembro de 1914, em Porto Alegre, e morreu no dia 27 de agosto de 1974, na sua cidade natal.
Lupicínio Rodrigues que este mês fez 100 anos. Seu centenário, sejamos francos e claro, não foi lembrado como era de se esperar. No dia 27, visitei rádios e televisões e não ouvi nem vi um "Especial" contando sua vida e lembrando suas músicas. Não lhe prestaram a homenagem que merecem os compositores que pela beleza de sua obra se tornam imortais.