Do caroneiro ao pedestre

Há 3 anos atrás acabei tomando uma decisão (meio contrariado é verdade) de sair do meu estado, da minha cidade em buscar de formação e novos caminhos. Naquele tempo acabei deixando pra trás várias amizades e lugares seguros pra arriscar a sorte em um mundo completamente desconhecido. Passados três anos, percebo que não me arrependo, mas acredito que estou crescendo no momento certo.

Um dessas mudanças que me auxiliaram nessa caminhada foi perder o carro. Morar numa metrópole em que os transportes públicos funcionam de forma razoável lembra-te de três coisas: pernas, chão e realidade. Agora, você consegue notar que sim, é fácil chegar de um ponto a outro sem carro, basta você saber que transporte pegar. Como também você pode andar a cidade toda, só perguntando as direções. Também aprende-se a dosar os seus custos, afinal entre pegar taxi e andar de metrô e ônibus sempre preferi as segunda e terceiras opções. Muito mais em conta.

Todavia de todas as mudanças porque passei a mais interessante certamente foi me tornar um pedestre. Hoje em dia não dirijo mais, só pego carona. E, cara, isso é muito mais interessante! As pessoas perdem horas e horas isoladas no trânsito, estressadas com a vida e poluindo a cidade. Viver sem carro me fez, enfim, compreender um pouco sobre os vários caroneiros que eu levava no carro. Nas mais diversas situações (aulas, farras, compromissos) não era incomum ter carro. Era prático e ao mesmo tempo um sinônimo de distinção, já que tinha o direito de ir e vir gastando menos que os demais.

Viver sem carro te ensina a prestar atenção nas horas, afinal o metrô só vai até 0h. Fica-se mais atento ao tempo como também se anda mais. É uma bela maneira de economizar dinheiro e se permitir conhecer a cidade. No sobe e desce ladeira, ver os vários artistas de rua, músicos e pessoas, que, assim como você caminham, correm e vivem o cotidiano de uma cidade grande. Pessoas com objetivos, vidas e caminhos diferentes, mas que transitam, caminham e correm como todo mundo que vive em uma grande metrópole, quiçá com tanta saudade de casa como você. Viver como pedestre seria uma forma não de “se perder na multidão”, mas sim de “caminhar com precisão” sem ter medo da solidão, companheira de muitas horas na rotina de um migrante na cidade grande, louca e imparável como São Paulo. Hoje sou pedestre e cada vez menos saudoso dos carros...

Andarilho das Sombras

Rousseau e o Andarilho
Enviado por Rousseau e o Andarilho em 29/08/2014
Código do texto: T4942468
Classificação de conteúdo: seguro