Encangando Grilo
Por Carlos Sena


Tem dias que a gente se sente meio "como quem partiu ou morreu", tal qual a canção de Chico. Não precisa de motivos objetivos. Amanhecer assim é parte do viver tão cheio de ser e de vir-a-ser; tão cheio de pra-que-isso e pra-que-aquilo. Porque no fundo a gente não deve achar ruim amanhecer assim, pois nos assustará se a agente passar muito tempo na calmaria, na maré mansa da vida, sem que nada de extraordinário nos aconteça. 
Por isso viver é sempre uma nova certeza a cada dia cercada de dúvidas por todos os lados. Nestas situações deixar o tempo escorrer pelas mãos é a melhor alternativa, porque o tempo dos homens não é o mesmo tempo da natureza que nos movimenta e nos conduz e até nos seduz, sobre certos ângulos de visão.
Assim, melhor cantar. Ou escrever - para quem tem na escrita seu álibi existencial como eu. Ou mesmo "calminhar" no calçadão como já fiz hoje. Ou mesmo nada fazer, desde que conversando consigo mesmo por dentro acerca do que não fizemos bem por fora. Ou nada. Ou Ficar na esbórnia encangando grilo ou azeitando o eixo do sol. Até mesmo pensando nos destinos da vida e seus drásticos ensinamentos. Porque há momentos em que nos vale mais a filosofia de pára choque de caminhão do que os tratados eruditos de filosofia pura. E atire a primeira pedra quem nunca pecou.. Porque todo mundo quer ir pro céu, mas ninguém quer morrer. Esquecem, quase sempre, que o ultimo pingo é sempre na cueca.