E Tudo Ficou Diferente
Bastou um descuido e já não me reconheci.
Uma estranha me dominou! Não sei mais quem eu sou.
Abri a porta na esperança de ver um dia bonito e permitir que o ar invadisse livremente os meus pulmões. Ele não entrou, por mais que sugasse com ânsia de que me penetrasse, me deixou sufocar.
Tudo parece assustador. Penso que irá passar logo e resolvo sair da minha zona de conforto, para os meus dias corriqueiros, vivendo como sempre faço.
Não entendo o motivo de nunca ter visto que estou cercada pelo cinza. As pessoas não são mais engraçadas e mesmo querendo a presença delas, as rejeito em silêncio. Maldoso silêncio. A angústia, as vezes me domina e tudo que desejo é voltar para casa e fechar a porta. Ficar quieta e sozinha. Tentar não pensar. Só tentar respirar sem dor!
Meus olhos eram secos como areia do deserto. Agora teimam em ser solo pantanoso! Estou perdida tão profundamente que me procuro em frente ao espelho. Me encaro tão seriamente que tenho medo! Um olhar frio e sem brilho. Não me encontro. Quase posso ver as minhas próprias mãos esticadas para que eu me puxe de volta, mas toda vez que vou me ajudar fujo e me escondo bem lá no fundo...Fundo de que? Não sei dizer.
É um esconderijo. Somente eu consigo entrar. As pessoas que mais amo chegam perto, mas não se atrevem a invadir. Eu não permito. Quero que fiquem longe do meu precipício íntimo. A defesa é meu sorriso e elas se afastam do meu abismo.
Dia após dia, um momento precisa ser breve para não me causar danos. Se for bom, não percebo, a não ser que já tenha passado. O presente é muito cruel. Fere sem piedade. Estou sangrando...e de novo e de novo...e o relógio não quer parar!