Está chegando a hora
Escrever é algo divino, faz bem para a alma, além de purificar o sangue. É um remédio que não necessita de bula ou receita médica. Você pode tomá-lo aos goles que nunca ficará saciado. Mas às vezes nos causa uma certa estranheza é quando o texto não oferece uma saída condizente com as nossas convicções.
De quatro em quatro anos tenho um pesadelo de identidade ideológica – overdose mesmo! Assim é que me vejo no período das eleições. Chego a acreditar que nesse espaço de tempo fico mais triste e mais irritado comigo mesmo, nem Fado escuto! É uma falta de paciência que não tem fim. Se ligo a televisão vejo aquelas carrancas carimbadas o que me dá arrepios no estômago. Se saio às ruas dou de testa com aquelas fotos engraçadinhas, retocadas, fotos de quando os candidatos eram bem mais jovens. Algumas me surpreendem, penso que são outras pessoas... é o efeito do milagre da cirurgia reparadora antes do pleito - a desculpa é a mesma - desvio de septo.
Os candidatos não conseguem me cativar, aí me pergunto, o que faço?! Mas não quero deixar de exercer o meu dever cívico, não quero fugir da minha responsabilidade ainda que ela me custe uma sentença de morte. Algumas pessoas me dizem: “ah, meu voto vai ser de protesto!” Aí elegem os tiriricas da vida. Pessoas absolutamente incapazes, verdadeiros mamutes ou se preferirem, cacarecos. Tempos atrás esses votos eram dados para macacos e rinocerontes. Eram votos considerados nulos. Hoje são válidos e tem nome e sobrenome, um horror! Nessas horas lembro-me do que disse Nietzsche em sua feroz crítica ao cristianismo: “Deus está morto”. É como se eu visse nos candidatos verdadeiros monstrengos, verdadeiros defuntos rodeados de sanguessugas. É como se eu fosse Deus a julgá-los para livrá-los do fogo do Inferno... ainda que suas fichas sejam as piores possíveis - é a ressurreição dos mortos. Os eleitos se veem como Salvadores da Pátria.
Na verdade eu gostaria de trocar o meu voto por um punhado de moedas, já que ele é obrigatório nada mais justo! Mas o problema não é o dinheiro, é a falta de opção, pois os candidatos que aí estão, não representam a minha vontade. Acho que nem a sua. Dizem que o povo tem o governo que merece... que pérola!
Confesso de dedos cruzados que já até pensei em votar na Dilma, mas quando a vejo na televisão penso que estou vendo a Mona Lisa sorridente. Não sei na verdade o que vejo. Olho de um lado, olho do outro... fico confuso e até vesgo. Digo até que tenho medo da imagem que brota na minha cabeça. Os outros candidatos são meros coadjuvantes - farinha do mesmo saco, a não ser que o avesso vire verso e a mandioca apodreça no pé. É bom lembrar que na política tudo é possível - tenho pena do meu voto!
Por fim, lembrei-me de Noel Rosa: “quem é você que não sabe o que diz?” Ou seja, quem sou eu que não sabe em quem votar? Nessas horas me sinto vazio de mim mesmo. Mas é sabido que essas drogas possuem efeitos colaterais devastadores. Mas, porém, todavia, contudo, não obstante! São os craques das urnas.
Eh, tomara que eu não tenha um palpite infeliz no dia cinco de outubro, se até lá eu não estiver morto!