Outra paixão além da poesia
É, além dela, gosto muito de cinema, como já o demonstrei em outras oportunidades. Desde cinemão-pipoca aos trabalhos intimistas dos cineastas com uma câmera na mão e o bolso sem um tostão. O bom do cinema é que há lições de vida, cultura, divertimento e arte em abundância e por preços relativamente módicos (nem só de multiplex vivem os cinéfilos) até por que, podemos vê-los em casa, com alguma defasagem é claro, mas sem prejuízo das essências contidas nas obras.
Fiquei motivado a escrever sobre o tema após ler as críticas do mais novo filme de um indigesto cineasta pernambucano pelo qual tenho grande respeito. Indigesto porque é temperamental e passa essa energia às posições sociais que seus personagens são levados. Trata-se do Cláudio Assis. À bem da verdade assisti a apenas um filme seu: “Amarelo Manga”, seu primeiro longa no circuitão. O que estréia atualmente, “Baixio das Bestas”, ainda vou ver. É obra que não deixa espectador sair calado das salas. Ainda que seja porque odiou. Eu gosto disso! Claro que o ódio não se justificaria por ter achado o trabalho medíocre. São sempre temas sociais mostrados com o dedo sujo da injustiça rodando sobre as feridas com suas unhas irregulares. Um painel das crueldades tupiniquins. A versão brasileira de *“Beleza Americana”, o excremento da alma humana.
Ao contrário dos filmes de ficção, onde viajo para uma aventura nas impossibilidades de nossa época, ou dos gêneros diversos, desde a estética até as abordagens estrangeiras para temas universais, os filmes de Meirelles, Guel Arraes ou Walter Salles me seguram aqui e me levam a reforçar que a criatividade e o talento substituem a dinheirama de Hollywood. Seria ótimo se tivéssemos esse recurso, entretanto quando só se tem uma bala, a pontaria costuma ser mais concentrada (ou pelo menos deveria).
Faculto à paixão por cinema grande parte de minha visão de vida. Desde os seis anos, no interior do estado, a onde não havia censura, senão a praticada pelos meus irmãos mais velhos, que assisto a filmes. Na época via tudo. Dos sete aos doze anos, ia diariamente, acompanhando meu irmão que trabalhava no cinema do lugarejo. Não parei mais, embora, atualmente, tenha me enquadrado às circunstâncias de tempo e interesses diversos que impedem maior dedicação.
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(*) Beleza Americana – Filme produzido nos Estados Unidos e dirigido por Sam Mendes.