O riso e a depressão
Fiquei consternada ao saber que Robin Williams, um ator que me proporcionara tantas gargalhadas, lutava contra a depressão, doença que, juntamente com o vício em álcool e drogas, levara-o ao ato extremo do suicídio. E, assistindo ao programa Fantástico, ultimo domingo, após assistir às entrevistas de comediantes famosos que confirmaram que faziam terapia e lutavam contra problemas emocionais, perguntei-me:”Como esses artistas não conseguem tirar proveito da sua arte?” Sim, perguntei-me isto porque é comum que nós, os que não trabalhamos com humor, resolvamos assistir a uma boa comédia, seja no teatro, cinema ou televisão ou ver os palhaços no circo como uma forma de catarse, para esquecermos de nossos problemas, refrescarmos nossa alma e vermos a vida de uma maneira mais leve. Não parece irônico que pessoas que nos façam rir tanto possam estar enfrentando tantas angústias e se sentindo perdidas e desesperadas?Realmente, parece irônico, mas devemos lembrar que os que trabalham com o riso são pessoas tão humanas quanto qualquer um de nós, que têm dúvidas, precisam lutar contra as incertezas da vida e não são invulneráveis. Talvez, por lidarem tanto com as emoções extremas, elas sejam até mais vulneráveis do que nós. E fazer humor não é fácil. Pelo contrário, é extremamente difícil. O comediante necessita extrair o lado engraçado de cada situação, mostrar como o ser humano pode ser ridículo e sempre se renovar, de forma a não ficar repetitivos, para não cansar o espectador. Como podemos ver, o humor requer inteligência e sensibilidade, mas nós sempre temos a impressão de que, para eles, é fácil fazer-nos rir.
E talvez os comediantes encontrem no humor uma forma de lidarem com suas aflições, como muitos dos artistas. Afinal, sabemos muito bem que os artistas são pessoas de grande sensibilidade, que têm uma forma particular de ver o mundo e nem sempre conseguem se fazer entendidas, sendo, quase sempre, incompreendidas pelos que os cercam. É uma pena que alguns tão talentosos, como era o caso de Robin Williams, não tenham conseguido se encontrar consigo mesmos nem encontrado a ajuda necessária para superar ou, pelo menos, aprender a conviver com as angústias que os atormentam.
Quanto a nós, ficamos tristes por ver que tantos que nos ajudam indiretamente a nos refrescar para enfrentar a vida, não consigam usar sua arte tão maravilhosa para ajudar a si mesmos.