Construindo crônicas com pregos
Você já construiu alguma coisa em que precisou usar pregos e martelo? Então... E já deu uma bela martelada no dedo? Pois é, a título de ilustração, martelei o dedo em maio e a marca de sangue ficou embaixo até hoje, final de agosto. Às vezes erramos ao projetar ou construir nossos projetos durante nossa vida, mesmo assim algumas marcas são boas para lembrar-nos o esforço e o trabalho gasto nestes engenhos. Isso é muito bom!
Hoje tive uma conversa com uma aluna, A Thaina. Foi-me uma surpresa, pois esperava qualquer coisa, tipo: dicas de redação, orientação para vestibular e provas do ENEM, já que ela é terceiro-anista e está na cara do gol (para a faculdade), porém ela veio “com os pregos e as tábuas na mão” e disse que quer ser escritora e que como sou escritor ela precisava de orientações. Obviamente, a princípio, fiquei lisonjeado e muito feliz de poder ser parâmetro e orientar sobre um assunto em que amo. Mas, com o decorrer da conversa, enquanto a Thaina falava sobre seus empreendimentos, e portava em mãos seus pregos e tábuas metafóricos, percebi o tamanho da responsabilidade em a minha frente. Admiro até agora a coragem e amor em compartilhar medos, anseios e sonhos. Olhei para minhas cicatrizes metafóricas em meus dedos metafóricos e recordei das dores: os mesmos medos e anseios, alguns vencidos e outros apenas adormecidos. Fiquei feliz em saber que a dor, as cicatrizes e as emoções são eternas e mesmo dormentes, são latentes e esperam apenas uma brecha para o grito de liberdade.
Por isso, conversamos com propriedade, não como aluno e professor e sim como escritores e colegas de sonhos. Obviamente possuo mais experiência e mais idade, “obviamente”, mas a vontade e o amor pela literatura é o mesmo e por isso posso afirmar com convicção: escrever é um ato misterioso. Pode ser prazeroso, dificultoso, complicado ou fácil. Escrever então, crônicas pressupõe imprimir vontade, alma e experiência de vida (coisa que todos nós possuímos). A madeira, matéria prima para se escrever está ai. Basta apenas você construir, martelar e pregar. Será que você irá machucar os dedos poucas ou muitas vezes? Tanto faz, desde que fiquem cicatrizes boas para nos ensinar ou lembrar-nos que estamos vivos e sangramos e se sangramos, vivemos e isso também é matéria prima para mais histórias. Eu construo crônicas com pregos: Thaina, obrigado por mostrar seus pregos...Eu havia esqueci alguns dos meus no meio das construções.