HERMÍRIO DE MORAES E A BENEFICÊNCIA PORTUGUESA

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Pela janela do terceiro andar da Beneficência Portuguesa, onde me encontrava internado, observava, quando o sol já começava a se esconder no horizonte anunciando que a noite chegaria logo, no final da tarde, o piloto do senhor Antônio Ermínio de Moraes pousava o helicóptero com o qual ele se deslocava em São Paulo, de trânsito intenso e muitos outros helicópteros executivos iguais ao dele sobrevoavam pela cidade como se fossem táxis de luxo, levando pessoas apressadas e cheias de compromisso de um lado para o outro. Não o via descer porque o heliporto do hospital foi construído bem no centro do prédio e minha visão não o alcançava, mas anunciavam que “foi o chefe que chegou para despachar”. Todos os funcionários do hospital respeitavam-no e admiravam a sua simplicidade e humildade enérgica de uma pessoa que era uma das dez maiores fortunas do mundo, dos mais de 80 médicos, mais de 8 mil funcionários sob seu comando, até os faxineiros.

Diziam que ele tinha repassado para seu filho o comando administrativo do hospital, mas despachava várias vezes na semana, comparecendo ao hospital. Não deu para contar quantas vezes na semana o vi chegando em seu helicóptero, porque em algumas delas eu estava dormindo sob efeito de remédios. Mas quando estava acordado, via seu helicóptero pousando no prédio do hospital pelo menos três vezes na semana, mas poderiam ser mais ou ser menos porque eu estava confuso, não como um médico de reprodução humana que começou ser acusado de violência sexual informando que suas vítimas estavam sobre efeito do medicamento propofol, o mesmo que matou Michael Jackson. Mesmo nessa confusão mental, dava para perceber o carinho que todos no hospital tinham pelo senhor.

Saiba, senhor Antônio Ermínio de Moraes que no local em que velaram o seu corpo, passei muitas vezes em cima de macas para realizar exames de tomografias ou cirurgias no subsolo ou no sétimo andar, com os médicos Antônio Almeida e Valéria Moio. A Beneficência tinha muitos leitos e andares, mas todos funcionavam perfeitamente como se fossem programados por computador: tudo era perfeito e no mesmo horário, embora meu atendimento também fosse pelo SUS, mesmo eu tenho um plano nacional da UNIMED!

Contei vários andares no hospital, para cima e para baixo. Nunca consegui compreender como um hospital cuja receita vem de recursos do SUS conseguia ter tudo funcionando perfeitamente se a maioria dos hospitais que atendem também pelo SUS estão falindo. No hospital, por pura curiosidade de jornalista, fiquei sabendo que 65% dos atendimentos eram pagos pelo Sistema Único de Saúde. Inacreditável! Como a maioria dos hospitais que atendem pelo SUS estão fechando ou em dificuldades financeiras e a Beneficência Portuguesa estava muito bem financeiramente? Seria mágica, competência de empresário visionário ou incompetência de administradores públicos? Ou o que seria pior: por falta de gestão administrativa ou incompetência gerencial, mesmo! No ano de 2007, último que me operei na Beneficência Portuguesa, me contaram que ele tinha iniciado obras de ampliação para atender convênios, mas não sei se conseguiu concluir mais essa meta.

Quando o almoço começava a ser servido aos pacientes internados nas enfermarias, parecia até um relógio suíço, tal era a precisão do horário. Eu ouvia o barulho pelo corredor dos carrinhos sendo empurrados e depois das bandejas sendo retiradas e salivava a boa comida que serviam, sempre com em pratos quentes, em bandejas de inox, cobertas. Depois das duas cirurgias a que me submeti, a última ocorreu no sétimo andar e os elevadores eram limpos e funcionavam bem. Aliás, a limpeza e a higiene sempre foram uma das coisas que admirei naquele hospital. Como outros hospitais do SUS estão falidos e este permitia até projetar investimentos? Era outra coisa que me intrigava!

Na primeira vez que me internei na Beneficência Portuguesa, ingressei pelo setor de oncologia, onde fiquei 17 dias enquanto aguardava o resultado das revisões de lâminas que levei para ser refeito em três laboratórios diferentes, sendo um deles o do Hospital. Não estava com câncer no cérebro como fui diagnosticado inicialmente. Depois do resultado negativo do exame, fui transferido para o setor de neurologia e passei a ser tratado pelos médicos Antônio Almeida e Valéria Moio.

Antônio Ermírio de Moraes, empresário, engenheiro industrial, membro do Conselho de Administração do Grupo Votorantim e presidente da Beneficência Portuguesa de São Paulo, não existe mais porque faleceu no dia 25.08.2014, aos 86 anos, mas deixou um grande legado que perpetuará seu nome e ficará na história como um dos grandes empresários brasileiros e empreendedores do século XX.

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 25/08/2014
Reeditado em 26/08/2014
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