EPÍSTOLA AOS INCOERENTES
Norma de Miracema, Noroeste do Rio de Janeiro, sobrinha de Saulo, nascido em Tarso, a principal cidade da província da Cilícia, na parte oriental da Ásia Menor, entre os anos 5 e 10 d.C. Dele herdei o gosto pela escrita, e por sua inspiração a vós me dirijo, amados primos, para conduzir algumas reflexões acerca de vossas posturas, nesse momento em que todos devemos ter muita atenção, pois aproxima-se a data em que decidiremos quem serão os nossos presidente, senadores, deputados federais e estaduais.
Antes que prossigamos, vós deveis saber que as palavras que lereis a seguir, não pretendem vos incitar a votar pela continuidade desse governo e em ninguém em especial. É imperioso que vós investigais as vidas pregressas de vossos candidatos, descobríeis se eles são deveras honestos e mensureis as extensões do senso de humanidade de cada um. Também deveis avaliar se os vossos escolhidos terão autonomia e coragem para governar em meio a um monte de gente, que só sabe gravitar ao redor do poder, para se locupletar de alguma forma.
Contudo, essa epístola pretende induzir-vos a depreender a incoerência existente entre vossos atos e palavras, utilizados no Facebook. Mas para que entendais os questionamentos a seguir, faz-se necessário que vós assumis, AGORA, que sois sinceros, quando curtis e compartilhais os lindos posts cristãos, que nos convidam a escrever “AMÉM!!”, ou, ainda, aqueles com pensamentos/falas de Regis Danese, do Pe. Fábio de Melo ou do nosso amantíssimo Jorge Mario Bergoglio.
Convenhais que quando vós agis dessa forma, vós nos dais a entender que tendes amor aos pobres, porque os vedes como vossos irmãos. Ocorre que, às vezes, como “Marias que vão com as outras”, vós postais coisas que demonstram que vós não tendes um coração tão bom assim, ou que vós servis a dois senhores, mas a um deles apenas da boca para fora.
Quando criticais o Bolsa Família, vós justificais que esse programa incentiva a preguiça do pobre e o mau caratismo dos desonestos, que burlam as regras e se apoderam dos benefícios a que não fazem jus. Acaso a faca é responsável pela mão que a utiliza para matar alguém? Acreditai: “As boas ações e as más ficam com que as faz”! Já pensastes que entre os que utilizam indevidamente esses benefícios estão, também, aqueles que são obrigados a enviar seus filhos para a escola, e aqueles que o utilizam para matar suas fomes e evitar que suas filhas tenham de ser prostituir para pedófilos? Certamente vós não gostaríeis de ter nascido em uma família cuja renda chegasse à “exorbitância” de até R$140,00 por pessoa, e nem preferiríeis trocar de lugar com os pobres para receber, mensalmente, uma quantia que varia de R$22,00 até R$200,00!
Quando vós vociferais contra o Programa Mais Médico, normalmente, vós o fazeis utilizando dois argumentos: a origem do problema da saúde pública é a gestão incompetente; e o dinheiro brasileiro não deve ser utilizado para dar emprego aos “filhos de Castro”. No que tange ao primeiro, pergunto-vos: enquanto não se resolve o problema de competência (se é que algum dia alguém conseguirá fazer isso), devemos deixar os nossos irmãos mais pobres sem assistência? Para o segundo questiono: os castristas estão tomando empregos de algum médico brasileiro?
Sinceramente, eu teria muitas coisas mais para vos perguntar por inspiração de nosso tio, mas espero, sinceramente, que sejais inteligentes e percebais duas coisas: a) que é incoerente acender, simultaneamente, uma vela para Deus e outra para o diabo; e b) que o nível social que vós hoje tendes é privilégio concedido ou permitido por nosso Pai, mas Ele não se agrada dos filhos que ignoram seus irmãos. Então, pode ser que, um dia, Ele decida fazer-vos sentir o sabor daquilo que vós considerais ótimo... para os outros!!
Concluo, dirigindo-me aos “primos” que se julgam alfabetizados e letrados, mas não conseguem alcançar as tramas que subjazem a superfície deste texto, e, consequentemente, poderão considerá-lo uma heresia, uma ousadia ou propaganda política. Ratifico-vos que sou movida pela incoerência estampada em discursos e pelo humanismo exacerbado que me liga à raça a que pertenço. Por fim, recomendo que vigieis vossas palavras, pois não é inteligente assumir que tendes dificuldade para entender o que ledes.