(EC) Uma crônica da vida pública – por que uma bola não é uma bola

Uma bola é sempre uma bola? Tudo o que parece é? Essas perguntas acompanham a humanidade há tempos. São questões filosóficas incipientes e todo o mundo sabe as respostas.

Falemos, então, de matemática. “A matemática possui não apenas verdade, mas também suprema beleza — uma beleza fria e austera, como a da escultura”. É assim que tem início a reportagem de Mônica Weinberg, editada em Veja (20/08), sobre Artur Avila, o jovem carioca, recém-chegado ao topo do mundo, o primeiro brasileiro a alçar a honraria de ser premiado com a medalha Fields, o Nobel da matemática, durante o Congresso Internacional de Matemáticos na Coreia do Sul, nesse mês de agosto.

O fato foi bastante noticiado nos últimos dias, e como todo e qualquer brasileiro, nos sentimos felizes e honrados com tal feito. Brasileiro é assim mesmo – se emociona, se enche de felicidade pela felicidade alheia e fala, reverbera aos quatro cantos qualquer coisa que possa divulgar a sua nação, sua raça ou a mistura de raças, sua cultura etc e tal. E em se tratando de educação – o fato noticiado, porque as ‘boas’ noticias são pouquíssimas, gostamos mais ainda de divulgar.

No entanto, o texto da Sra. Monica faz uma denúncia falaciosa, afirmações generalistas, é um tanto truncado e nos apresenta um Avila tão desinteressante, que ficamos meio decepcionados com a aridez das ideias desse jovem.

Primeiro, de onde a Sra. articulista tirou a ideia de que as crianças e jovens, em todo o mundo, detestam matemática? Dona Monica, as crianças são naturalmente curiosas, quando vão à escola, assim o fazem com encantamento. Parte delas prossegue encantada, infelizmente, a outra parte não é apresentada à ciência da melhor forma e recua diante da dúvida. Depois, afirmações como “A matemática é a linguagem que a natureza usa para expressar seus segredos aos seres humanos e, assim, se deixar dominar por nosso intelecto”, não nos dizem nada. A matemática tem existência em si própria, não deseja dominar a ninguém. Não sou da área, mas acho fantástica a lógica matemática e a objetividade com que trabalham os aficionados a essa arte.

Desnecessário, também, ao engrandecer o feito de Avila, diminuir os colegas da área: “O número de publicações com seu nome (o de Avila) nas principais revistas especializadas é três a quatro vezes maior do que as assinadas por geniozinhos da mesma idade. Afinal, se estuda com o fim de descobrir algo, contribuir com a ciência e não para provar ser melhor do que o outro.

Além de todo esse blábláblá, a descrição do nosso premiado, o jovem Artur Avila, foi absolutamente tosca e ele contribuiu e muito para isso. Quando soube que seria premiado, uma simples afirmativa: “Ótimo. Pronto, esse problema acabou” nos aponta uma falta de emoção que impacta nossa recém não-admiração por esse cara. E o que dizer dos seus familiares, dos mestres que o apoiaram? Nada, nenhuma linha. Sobre sua trajetória, sabemos apenas que aos 16 anos já fazia mestrado no Impa junto com o doutorado. E aos 21 concluíra o Phd. Hoje, divide uma sala na Universidade de Paris com um colega que jamais viu (estranho, não?).

E a pior parte dessa descrição ocorrera quando, de seu apartamento em Paris, em meio ao caos de sua desordem pessoal, nenhum livro fora visto. Ele próprio declarara ter perdido o hábito da leitura, certo é que ele nunca teve (impressões nossas). Não estamos aqui disseminando um preconceito, parte da nossa sociedade não tem acesso à cultura letrada; mas uma declaração desse tipo, vinda de um cientista (nesse caso, não dá para dar um desconto por sua imaturidade), que passa a ser uma inspiração para uma nova geração de matemáticos, é, no mínimo, arbitrária. Para ele, “Só a matemática interessa”. Pobre matemático e infeliz artigo.

Voltando ao ponto inicial, uma bola não é uma bola. Os matemáticos, cientistas, filósofos, psicólogos e nosso senso comum comprovam isso! E não há necessidade de quaisquer justificativas.

Este texto faz parte do Exercício Criativo (EC) sob o tema Uma bola não é uma bola. Outros textos versando sobre o mesmo tema neste link: http://encantodasletras.50webs.com/umabolanaoeumabola.htm

RosalvaMaria
Enviado por RosalvaMaria em 25/08/2014
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